O apetite dos investidores estrangeiros por ativos brasileiros e movimentos de consolidação em alguns setores devem começar a destravar as operações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) no País. Uma prova desse movimento está no aumento das consultas a empresas e escritórios de advocacia especializados em assessoria financeira e em due dilligence – processo de investigação de dados de uma companhia.

Mas, embora a expectativa seja positiva, a concretização de muitos negócios depende do andamento das reformas propostas pelo governo para engatilhar o ajuste das contas. Além de ativos da Petrobras e de outras companhias endividadas, há uma série de empresas envolvidas na Operação Lava Jato que colocaram parte do portfólio à venda, em negócios que juntos têm potencial de girar dezenas de bilhões de reais.

Se de um lado o movimento dessas operações está vindo de empresas que colocaram ativos à venda para conseguir readequar seus níveis de endividamento e reposicionar a companhia a um novo cenário, há, de outro, empresas capitalizadas que estão aproveitamento o momento para se consolidar e expandir seus negócios. Um caso é o do grupo Ultra. A aquisição mais recente foi a da rede Alesat Combustíveis e também da Liquigás, que ainda dependem do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Isso sem contar uma lista de estrangeiros, entre investidores financeiros e estratégicos, que estão analisando oportunidades no País.

“Há uma série de investidores que estão voltando com força para o Brasil. Entre os fatores de crescimento estão os novos conglomerados de investidores nacionais, realizando investimentos estratégicos”, afirma o diretor de fusões e aquisições do Bradesco BBI, Alessandro Farkuh. O executivo destaca que o banco, até aqui, trabalhou em dez transações já anunciadas e vê o ano com otimismo. “A percepção é de uma curva positiva até o final do ano.”

No primeiro trimestre, o valor das 96 operações que ocorreram somou R$ 62,6 bilhões, crescimento de 180% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento do TTR, junto com o LexisNexis. Desse total de transações, 53 foram de empresas estrangeiras adquirindo brasileiras.

Concessões

O interesse dos estrangeiros segue firme no Brasil, muitos participando ativamente dos processos de concessão que estão se desenrolando no País, afirma o chefe do banco de investimento do Bank of America Merril Lynch, Hans Lin.

Antonio Pereira, responsável pelo banco de investimento do Goldman Sachs do Brasil, afirma que há muitos fundos de private equity, locais e estrangeiros, bastante ativos. “Há muita liquidez no mercado. No mundo, as taxas de retorno estão baixas e há capital buscando melhores taxas. O Brasil voltou a ser uma geografia interessante para os fundos olharem”, disse.

“A percepção e o apetite do investidor estrangeiro melhoraram. Observamos interesse em infraestrutura, energia, consumo, saúde e educação”, cita o responsável pelo Departamento de Investment Banking do Credit Suisse, Fábio Mourão.

Um indicador que mostra que os negócios podem começar a se desenrolar é o fato de a procura por data rooms, para a realização de processos de due dilligences, ter começado a crescer, conta o responsável pela Intralinks no Brasil, empresa que fornece esse tipo de serviço, Cláudio Yamashita. “Muitos negócios foram postergados no ano passado e estão sendo retomados. Isso ainda não se reflete nos processos de due dilligence, mas o volume de conversas para a contratação dos serviços aumentou”, afirma o executivo.

“Estamos com uma visão otimista, especialmente para o segundo semestre. A nossa atividade antecipa as tendências econômicas. As consultas vindas de estrangeiros estão surpreendendo”, destaca Carlos Parizotto, sócio da Cypress, assessoria financeira para fusões e aquisições. Segundo ele, há dois perfis claros de interessados em fazer negócios no Brasil: o primeiro são os estrangeiros com comprometimento de longo prazo, “que entendem os altos e baixos” do País; o segundo são os fundos de private equity, que compram participações de empresas. “O cenário político acaba afetando, principalmente para o estrangeiro.”

O sócio do escritório Siqueira e Castro, Guilherme Dantas, que atua na área de fusões e aquisições, aponta que além de infraestrutura, setor que vem saltando aos olhos do investidor estrangeiro, os “gringos” estão atentos também para agropecuária e indústria alimentícia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.