Na semana passada, a operadora de turismo CVC apresentou os resultados referentes ao primeiro trimestre de 2017. Com um valor de mercado de R$ 4,2 bilhões, a companhia apresentou reservas confirmadas de R$ 2,3 bilhões, uma receita de R$ 298 milhões e um lucro líquido de R$ 69 milhões, 8,1% a mais do que no mesmo período do ano passado. Luiz Eduardo Falco, CEO da empresa, falou com a coluna. Acompanhe:

A CVC tem apresentado crescimento, trimestre a trimestre. A crise não deu as caras na empresa?
Queria muito que a crise não tivesse mostrado a cara por aqui. Pegou todo mundo.Não há Shangri-La no mundo dos negócios. A CVC mostrou resiliência e a equipe teve muita capacidade de se adaptar. O que fizemos para mitigar a crise foi criar uma quantidade grande de produtos.

Como quais?
Você pode fazer passeio de sete dias no Caribe ou cinco dias no Nordeste, pode ir para um lugar bacana como Jericoaquara, mas também conseguimos acomodar o cliente na praia da Pipa. Também conseguimos trabalhar junto aos fornecedores de hotel, com pré-compra, jogar tráfego em destinos com custo-benefício mais interessante. E usamos muita tecnologia para saber quais produtos as pessoas estão buscando.

De que forma a empresa consegue saber?
Pelo nosso site. Conseguimos saber se as pessoas de um determinado bairro estão olhando pacotes para destinos de neve. Com isso, adaptamos a vitrine da loja daquele bairro com ofertas de esqui. Por isso, fazemos vitrines especialmente para cada loja.

Qual é o seu mix de venda?
A internet representa 15% e as lojas físicas 85%. Isso aqui é varejo, é como Casas Bahia.

Em 2015, a CVC comprou os controles acionários da Rextur Advance e da Submarino Viagens. Em 2016, da Experimento, que atua no mercado de educação, e neste mês adquiriu 90% do grupo Trend por R$ 258 milhões. A empresa vai continuar comprando?
Desde que a CVC abriu o capital, fez o follow on e se tornou uma empresa pública de capital pulverizado, nos tornamos consolidadores. Saímos olhando outros negócios que faziam sentido não apenas sob o ponto de vista de sinergia, do custo, mas também do ponto de vista de complementação de negócio. Como somos líderes em lazer, partimos para o mercado corporativo. Compramos a Rextur, líder de emissão, e agora a Trend, que é líder em hotel. Seremos um player importante no mercado corporativo a exemplo do que somos no mercado de lazer. E assim sucessivamente. Compramos a Experimento porque é uma empresa que tem o melhor branding de educação e vamos crescer nessa área para ser um player importante.

Mas a CVC vai continuar comprando empresas?
Se surgirem bons ativos com retornos maiores do que dividendos para nossos acionistas, a resposta é sim.

Uma área que a companhia não tem muita presença é no mercado de luxo. O senhor pensa em entrar nesse segmento?
Andamos vendo vários ativos por aí e, se tiver uma oportunidade, entraremos. O problema que você vê por aí é que o cara quer vender o negócio e sair da empresa. Nesse segmento, vale comprar se o dono ficar. Se eu compro e o fundador não fica, é como se eu estivesse comprando um escritório com um monte de computador. Aí não vale nada. Em todas as aquisições que fizemos, os fundadores ficaram conosco.

A empresa pretende partir para outros países?
Estamos de olho em ativos na América Latina. Tem espaço para gerar valor na região.

Em que área a companhia ainda não é forte? 
Estamos devendo um pouco no online, a gente não acertou 100% da estratégia. Até porque a estratégia desse segmento no Brasil não deu certo. Ainda não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos.

E o que não querem?
Não queremos repetir o modelo americano por aqui. Temos certeza que isso não dá certo.

Qual seria esse modelo americano?
Se você pegar a Decolar, que copiou o modelo americano, é uma empresa que temos pouca admiração porque não vemos como eles vão ganhar dinheiro. Não é o caso da Booking, por exemplo. Eles têm um modelo de negócio que respeitamos. Deu certo, tem as suas limitações em um país como o nosso. Se você comprar uma diária em um hotel em Maresias (SP), dá certo. Mas, se você comprar um hotel em Natal, já é mais complicado, porque tem de comprar o bilhete aéreo.

O senhor entrou na CVC para coordenar o IPO. Como foi o desempenho das ações e até quando o senhor permanecerá na empresa?
Lançamos as ações a R$ 16, ficou muito tempo em R$ 12 e hoje está na casa dos R$ 32. O meu contrato terminaria agora em julho, mas houve quase um pedido do mercado, quando fizemos follow on, para que eu ficasse. Estendemos até dezembro de 2019

E o senhor vai vender as suas ações?
As minhas ações estão destravadas desde 2014. Obviamente, você tem de ter um balanceamento do seu portfólio, não pode ter todos os ovos na mesma cesta. Mas, respondendo à sua pergunta, minha ideia é ser acionista da CVC, acho que essa companhia é um ótimo negócio e dá para gerar muita riqueza.

Internamente o plano de remuneração proposto ao senhor gerou polêmica, alguns diziam que seria muito generoso. Isso foi resolvido, todas as partes estão de acordo?
Foi acertado. Quer dizer, terá de ser votado na próxima assembleia de acionistas. Será proposto um plano que gere menos polêmica. Não é que gerou polêmica. Quando você vai fazer o IPO de uma companhia que não tem ações na Bolsa, parte da sua remuneração é de ações. Se você tem ações, dá certo e começa a crescer, você se deu bem. Essa é a verdade. Eu tenho 2% da companhia, se eu me dei bem com 2%, os outros 98% se deram bem. Na hora de renovar, disse que ficaria pelo mesmo valor e hoje tem uma proposta para ser aprovada em assembleia.

(Nota publicada na Edição 1018 da Revista Dinheiro, com colaboração de: Paula Bezerra)