O escândalo sobre a venda de carne irregular no Brasil e no exterior, investigado na Operação Carne Fraca, pode atrapalhar a recuperação da economia brasileira, avalia a consultoria inglesa Capital Economics. Apesar de ainda ser cedo para avaliar os impactos e os desdobramentos das descobertas da Polícia Federal, os economistas da consultoria estimam que o País pode ter uma perda de receita de US$ 3,5 bilhões por ano, caso a suspensão da compra do produtos por países que já anunciaram, como a China e o Chile, dure por tempo prolongado.

Esse impacto representa 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano, calcula o economista-chefe da Capital Economics, Neil Shearing, mas pode subir para 0,5% caso outros mercados, como Arábia Saudita, Rússia e Japão, também adotem medidas restritivas para a compra da carne brasileira. “Isso tem o potencial de produzir um impacto considerável no PIB”, ressalta ele, destacando que o Brasil exportou US$ 12,6 bilhões em carnes no ano passado, o equivalente a 7% de todas as vendas externas do País e 0,7% do PIB.

O fato de a Operação Carne Fraca ter sido anunciada praticamente no final do primeiro trimestre deve impedir qualquer efeito no PIB do período, ressalta Shearing. A previsão é que depois de dois anos de forte recessão, a economia brasileira volte a crescer nos três primeiros meses de 2017.

“Qualquer impacto maior na atividade vai depender de quanto tempo as suspensões das importações vão durar”, escreve o economista em um relatório nesta segunda-feira, 20. Pelo lado positivo, essas suspensões e pedidos de esclarecimento de outros países estão ligadas a preocupações com a saúde pública e não em disputas comerciais internacionais. Tão logo as autoridades brasileiras e os frigoríficos do País possam assegurar a qualidade dos produtos exportados, essas medidas devem ser revertidas. “Muito agora depende da capacidade de gerenciamento de crise do Brasil”, destaca o economista.

Após dois anos de severa recessão, um escândalo que afete o PIB de maneira mais consistente é tudo o que o Brasil não precisa neste momento, ressalta Shearing. É no mínimo “plausível” que o escândalo das carnes pode tirar a recuperação da atividade dos trilhos, completa.