A economia mundial tem dois motores, Estados Unidos e China, e este último está rateando. Na madrugada da quinta-feira (31), o Departamento Nacional de Estatísticas, versão chinesa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgou a estimativa oficial para o Índice Nacional dos Gerentes de Compras (Purchase Managers Index, ou PMI) de maio. O índice ficou em 49,6 pontos. É um resultado superior aos 47,4 pontos de abril, mas abaixo das expectativas. As projeções dos analistas eram que o índice voltaria a superar 50 pontos. O PMI vai de zero a 100. Níveis abaixo de 50 indicam redução das compras pelas empresas e consequente retração da atividade econômica.

A queda do PMI foi apenas o mais recente sinal de piora na economia. Nos últimos dias, diversos bancos, agências de risco e organismos multilaterais revisaram para baixo suas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês em 2022. A estatística “oficial” é de um avanço de 5,5%. Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu em 0,4 ponto percentual sua estimativa para o crescimento econômicos chinês em 2022. Agora, a estimativa do Fundo é de 4,4%, ante os 4,8% anteriores.

Os prognósticos dos especialistas são ainda mais negativos. Uma enquete realizada pela agência de notícias japonesa Nikkei mostra que vários institutos também reduziram suas projeções. A agência de classificação de riscos Standard & Poor’s baixou sua estimativa para 4,2% ante 4,9% anteriores. O Citigroup prevê uma queda ainda maior. O banco também espera um avanço de 4,2%, mas sua projeção anterior era de 5,1%. E essas são as avaliações otimistas. A mais pessimista é a da Bloomberg Economics, que prevê um crescimento de apenas 2% por cento.
Nas últimas quatro décadas a China tem sido um sinônimo de economia em expansão. A expressão “crescimento chinês” não foi forjada por acaso. O que está provocando a exaustão desse modelo é a conjunção entre persistentes contaminações pelo coronavírus, que obrigam o governo a manter medidas de restrição para a economia, e a exaustão de algumas fontes de crescimento.
Durante muito tempo o crescimento do PIB chinês deveu-se a seu setor exportador. Há trinta anos a China exportava calçados de má qualidade e brinquedos de plástico com falhas de acabamento. Atualmente, suas exportações são de itens de alta tecnologia. No entanto, a principal contraparte, os Estados Unidos, vem aos poucos privilegiando a produção doméstica. E esse é só um pedaço do problema.
Boa parte da expansão econômica chinesa deveu-se a seu setor imobiliário. Com 1,4 bilhão de habitantes, o país sempre terá necessidade de mais tetos. Porém, a especulação com imóveis e a quebra de incorporadoras gigantescas como a Evergrande, no ano passado, levaram esse setor a enfrentar uma crise estrutural.
Para piorar, o governo chinês, que nunca se furtou a gastar para financiar o crescimento, está sem dinheiro. A queda da atividade reduziu a arrecadação e a retração no setor imobiliário cortou uma das principais fontes de financiamento público, a venda de terras ao setor privado. Na implantação do regime comunista em 1949 o governo estatizou quase todas as propriedades, e tem ganho muito dinheiro privatizando esses imóveis. Porém, o estoque está acabando e a desaceleração nas construções reduziu a demanda. Não há dados oficiais recentes disponíveis, mas as estimativas dos analistas são de que o buraco nas contas neste ano seja de 6 trilhões de renminbis (US$ 895 bilhões).
Deverá haver um alívio momentâneo a partir da quarta-feira (01), quando as autoridades suspenderem as restrições à mobilidade em Xangai, principal centro econômico chinês. Mesmo assim, a economia chinesa, antes um motor confiável, está dando sinais de fadiga de material. E os solavancos serão sentidos também no Brasil.