Eleita uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina, Camila Farani é presidente da G2 Capital, boutique de investimento em tecnologia. Em sua trajetória de quase 20 anos, a empresária já aportou mais de R$ 45 milhões com co-investidores, pools de investimentos e sua própria holding em cerca de 45 empresas, um ecossistema que movimenta mais de R$ 3,7 bilhões por ano e emprega mais de 15 mil pessoas.

Farani acaba de lançar seu primeiro livro “Desistir não é uma opção”, que traz lições e experiências no mundo do empreendedorismo. “Eu sempre acreditei que o empreendedorismo é uma forma de superarmos e resolvermos problemas reais, dores da sociedade. Porque é a partir dele que podemos gerar renda, empregos, mudar a vida das pessoas e impactar positivamente a nossa economia. Considero que a missão é ajudar a formar a nova geração de empreendedores e empreendedoras”, afirma.

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Confira seis dicas da empresária para quem deseja começar um negócio:

  1. Por onde começar um negócio pequeno ou médio?

Empreendedor é se tornar protagonista da sua própria vida. Essa frase tem um significado enorme, porque toda a energia necessária para que esse protagonismo ocorra verdadeiramente vem do empreendedor. Pelo menos em um primeiro momento.

Por isso, investir em um negócio começa com o traçado de objetivos claros. Mirar o foco e a energia para cada uma das metas definidas. Ciente de onde pretende chegar, o empreendedor deve chamar para trabalhar pessoas que tenham a mesma energia e que tenham habilidades complementares. É fundamental pensar nas questões técnicas (o quão escalável é este negócio, estratégias de crescimento, indicadores financeiros), qual é o tamanho deste mercado.

O empreendedorismo é um caminho cheio de desafios, riscos e imprevistos. Aprender a conviver com o risco e, mais do que isso, procurar utilizá-lo como fonte de motivação pode ajudar quem pretende empreender. O conhecimento se adquire — há muitos cursos gratuitos por aí, online e presenciais, e muita coisa se aprende na prática também.

Farani sugere que quem deseja criar um negócio, em qualquer área, de qualquer tamanho, dedique bastante tempo buscando conhecimento. Se vai abrir um negócio de alimentação, pesquise muito sobre a cadeia produtiva dos alimentos que oferecerá; sobre quem são as pessoas que vão consumir seus produtos; quais seus hábitos.

“Muitas vezes, empreendemos e vamos trocando a roda do carro com ele em movimento, e é assim mesmo. Porém, o segredo está em corrigir rápido os contratempos. Isso só é possível quando estamos muito atentos, olhando para todos os lados e enxergando onde podemos melhorar, com quem podemos aprender mais. Estar à frente de um negócio exige energia”, completa.

  1. Como definir o ramo de atividade a empreender?

A pandemia mostrou que ainda há muitas oportunidades, especialmente na direção da digitalização de setores importantes da nossa economia, como saúde, educação, indústria e varejo. Além disso, o mercado financeiro também segue forte. Outro segmento muito impactado pelas novas tecnologias e que, consequentemente, cresce de forma significativa no Brasil, é o agronegócio. Uma atenção especial também para tudo que envolve a Web3.

Fintechs, healthtechs, retailtechs e startups com soluções para todas as verticais são fundamentais para ajudar a oxigenar e acelerar a transformação e o crescimento de operações. E, mesmo quem decide empreender em mercados mais tradicionais, deve estar atento para o poder de usar a internet e as ferramentas digitais para potencializar os negócios.

  1. É possível prever que será rentável?

É possível ir a fundo para entender as oportunidades do mercado e, assim, mitigar os riscos. Os negócios são pautados por variáveis como as macro conjunturais – como o cenário complexo que vivemos atualmente – e as específicas do mercado de atuação. O controle financeiro é um dos pilares essenciais para a geração de lucro e de crescimento. Com o olhar puramente técnico, acredito que fluxo de caixa organizado e pagamentos em dia são excelentes balizadores para as tomadas de decisão, que podem alçar seu empreendimento para cima. Tenha sempre as projeções dos valores que entram e que saem do caixa. Esteja sempre atento ao mercado, às tendências e aos seus concorrentes. Inovação tem sido a mola propulsora dos negócios bem-sucedidos hoje em dia.

  1. Como saber se vou atingir o público certo?

Uma das grandes vantagens da digitalização é a possibilidade de experimentar e de captar dados e informações que possam modelar o seu negócio. Sendo assim, sugiro que você escolha um canal e comece a testar seu público (quem ele é, o que consome com mais frequência, quais seus interesses pessoais, suas inclinações sociais e políticas).

Tenha cuidado na hora de mapear o mercado. Se você quer acertar no público, peça ajuda para quem sabe como fazer esse trabalho de pesquisa. Use e abuse das tecnologias. Vá além do que parece ser o caminho mais fácil. O sucesso vem com  muita dedicação, suor e resiliência.

  1. Devo investir em marketing já no início? Quais seriam as ações?

As experiências dos clientes com as marcas serão cada vez mais fundamentais no processo de decisão de compra. Isso precisa estar na mente de todo empreendedor. Um caminho importante é investir cada vez mais nas interações que o mundo digital permite, como com as redes sociais – e, importante, fazer isso de forma cada vez mais personalizada e atento para o conceito da criação de comunidades.

Invista em aproximar o seu negócio do seu público-alvo, em fazê-lo conhecer o seu produto ou solução, em criar experiências diferenciadas. Hoje em dia, as próprias redes sociais podem ser um ótimo canal para isso e para efetivar vendas também. As formas de sensibilizar as pessoas para a nossa mensagem, o nosso negócio, variam muito, mas precisam invariavelmente ser focadas no público de interesse. Porém, nenhum negócio está pronto para ser divulgado e investir em qualquer estratégia de marketing se ainda não estiver validado. Se o produto não estiver funcionando. Além disso, esteja preparado para a procura que as suas ações gerarem. É comum algumas empresas investirem em marketing e depois não conseguirem suportar a demanda que surge dessas ações. Isso pode trazer problemas para a imagem e para a marca. Então, como tudo, marketing exige planejamento.

  1. O que devo e o que não devo fazer para começar?

Esteja preparado. Estude, busque apoio de mentores que irão ajudar a guiar os seus passos. Entenda se o seu produto resolve uma dor real, conheça seus concorrentes. Tenha claro o objetivo do empreendimento e construa um modelo de negócios robusto. Um grande risco é não saber gerenciar todas as demandas que o negócio requer. No mundo dos negócios, precisamos estar atentos às nossas capacidades e às nossas fraquezas: muitas vezes, temos um perfil muito bom em vendas, mas não nos damos muito bem com contabilidade, na tecnologia ou gestão de estoques. Tenha um time complementar. Saiba gerir o fluxo de caixa. Invista em tecnologia, especialmente as que forem ajudar você a antecipar cenários, automatizar processos, reduzir custos e realizar ações de marketing mais assertivas.