Em sessão marcada por instabilidade e trocas constantes de sinal, o dólar à vista se firmou em baixa nas últimas horas de negócios e encerrou o pregão desta quinta-feira, 26, em leve queda (-0,11%), cotado a R$ 5,0745, entre mínima a R$ 5,0595 e máxima a R$ 5,1174. Segundo operadores, após acumular perda de 2,45% nas três sessões anteriores, voltando a níveis vistos no início de novembro de 2022, era natural que houvesse certa turbulência, com ajustes de posições e movimentos de realização de lucros. Embora a divisa já apresente baixa de 3,89% em janeiro, analistas veem chances de nova rodada de apreciação do real e dólar abaixo de R$ 5,00 no curto prazo.

Na ausência de novidades no front político doméstico, as cotações ficaram sujeitas a fluxos esporádicos e ao comportamento da moeda americana no exterior. Crescimento mais forte que o esperado do PIB nos Estados Unidos no quarto trimestre, embora não altere a expectativa de alta menor dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), amenizou as pressões sobre a moeda americana no exterior.

Referência do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY operou em alta ao longo do dia e, na máxima, voltou a superar a linha dos 102,00 pontos. As taxas dos Treasuries subiram, embora de forma modesta, com o retorno da T-note de 10 anos na casa de 3,46%. Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, o comportamento foi misto.

“As perspectivas emergentes e para o real são positivas com a economia da China reabrindo e alta das commodities. Hoje, teve essa volatilidade por conta dos números mais fortes dos Estados Unidos. As taxas de juros lá fora estão subindo um pouco e o dólar se valorizando frente outras moedas de países desenvolvidos”, afirma o head da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt.

A surpresa com o PIB ameniza os temores de recessão pronunciada nos EUA neste ano, mas não altera a aposta amplamente majoritária em redução do ritmo de alta de juros de 50 pontos-base para 25 pontos-base na reunião de política monetária do Fed na próxima semana (1º de fevereiro). Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar no mesmo dia a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano.

A economia Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, observa que, mesmo com continuidade do aperto monetário nos EUA, o diferencial entre taxa de juros externa e interna segue em níveis muito elevados, o que estimula operações de ‘carry trade’ e é dá suporte ao real, favorecido também pela reabertura da economia chinesa.

Além do fluxo expressivo de estrangeiros para a bolsa em janeiro, parece haver demanda por ações e títulos públicos brasileiros. O Tesouro Nacional vendeu hoje 1,4 milhão de NTN-F, papel preferido pelos estrangeiros, de uma oferta total de 1,5 milhão. O giro financeiro foi de R$ 1,2 bilhão.

“Há incertezas no Brasil, mas a nossa taxa real de juros é disparada a maior do mundo. Na falta de notícias ruins, o real vai se valorizar aos poucos. Não é preciso nem notícia boa. É só não ter nada ruim que o dólar vai escorregando”, afirma Weigt do Travelex. “Olhando duas cestas de moedas, uma com emergentes e outra com exportadores de commodities, vemos espaço para o real se valorizar mais 5%, o que significa dólar a R$ 4,80. Não quer dizer que vai para R$ 4,80, mas há espaço para isso.”