Ao longo das últimas duas décadas, nenhuma das grandes incorporadoras imobiliárias das que possuem ações negociadas na bolsa tiveram resultados tão consistentes quanto os da Cyrela. A companhia, especializada em imóveis de alto padrão, não ficou imune, nesse período, a todos os grandes movimentos do setor, mas conseguiu navegar com segurança. Ela aproveitou a expansão do crédito para os clientes no novo milênio, fez parte da onda de aberturas de capital do setor há uma década, viveu o pico de euforia com a valorização do mercado e se complicou com a crise que assolou o País. Mas, ao contrário de diversas de suas principais rivais, como a PDG, a Tecnisa e a Rossi, enfrentou as dificuldades com mais agilidade, e reagiu antes da crise. Hoje é a segunda maior incorporadora brasileira, atrás apenas da MRV Engenharia, voltada para imóveis de baixa renda. No ano passado, a Cyrela faturou R$ 3,3 bilhões.

2017: Horn foi destaque na capa da DINHEIRO, em maio, por suas doações e por incentivar outros bilionários a fazerem o mesmo

Por trás desse sucesso está o homem que lidera a empresa desde a sua fundação. Nascido em Alepo, na Síria, Elie Horn, de 72 anos de idade, está no Brasil desde os 11, e começou no setor de construção aos 17, na empresa do seu irmão Joe. Em 1978, mudou o nome da companhia para Cyrela e construiu um das maiores fortunas do Brasil. Judeu ortodoxo, Horn preside o conselho de administração e dá expediente diário das 7h às 21h. Apesar de não possuir cargo executivo na Cyrela desde 2014, a sua influência está por toda parte – os filhos Raphael e Efraim comandam o negócio desde então. Desde o ambiente austero do escritório, a firmeza de negociação às interrupções para orações religiosas, a sua marca é clara na cultura da empresa. A aposentadoria, no entanto, não chega nem a ser cogitada. “O trabalho dignifica o homem, desde que feito com fins positivos”, afirmou à DINHEIRO, em maio último.

Mas a incorporadora não é mais a maior preocupação atual de Horn. Nos últimos anos, ele vem se dedicando cada vez mais à filantropia, que se constituiu em sua segunda grande vocação. O empresário virou o principal exemplo brasileiro de incentivo às grandes causas. Ele foi o primeiro do País a aderir à organização The Giving Pledge, criada pelos americanos Bill Gates, fundador da Microsoft, e o megainvestidor Warren Buffett. O sírio-brasileiro se comprometeu a doar 60% do que acumulou em vida, uma fortuna estimada em R$ 6 bilhões. “As pessoas da sociedade civil, quando podem ajudar, têm a responsabilidade de fazer isso.”

O tino de negócios, no entanto, está longe de adormecido. Horn também se tornou um dos investidores da Cia. da Consulta, uma startup de rede de clínicas populares, focada em atender pessoas que buscam consultas por preços em torno dos R$ 100. Trata-se de uma das novas empresas criadas com esse modelo de negócios, que visa enfrentar o déficit de saúde do Brasil e, com isso, explorar um nicho bastante promissor. Nessa nova empreitada, Horn combina os dois lados que fez dele um dos grandes nomes do capitalismo brasileiro das últimas décadas: a preocupação com os problemas sociais e a imensa capacidade de aproveitar oportunidades de negócios.


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