Em meados de maio, o empresário da educação Flávio Augusto da Silva anunciou uma parceria de negócios com Carlos Wizard Martins e o seu filho, Charles Martins, que adquiriram 35% da sua rede de escolas de inglês Wise Up, por R$ 200 milhões. Na ocasião, afirmaram que consolidariam o segmento de ensino de idiomas no Brasil. Não demorou muito para começarem a cumprir a promessa. Na segunda-feira, anunciaram a aquisição total da rede Number One, de forte presença em Minas Gerais, com receita de R$ 102 milhões e 135 unidades. O valor do negócio não foi divulgado. “Temos outras duas negociações avançadas”, diz Augusto.

Para completar a transação com a Number One, os empresários criaram uma holding, a Wiser Educação, que vai abranger as marcas que serão adicionadas a seus negócios, com a mesma divisão que eles detêm na Wise Up. Augusto possui 65% das ações e a família Martins, 35%. Com a aquisição da rede mineira, o grupo passa a acumular 455 unidades e um faturamento anual de R$ 350 milhões. “Prometemos atingir 1 mil escolas até 2020, mas como já estamos quase na metade do objetivo, devemos conseguir isso antes. Se chegarmos logo na meta, podemos dobrá-la”, brinca Augusto, lembrando frase já célebre da ex-presidente Dilma Rousseff. “A crise não nos assusta, porque vivemos momentos até piores do que este.”

O baixo índice de conhecimento da língua inglesa no País sustenta o otimismo. Pelos cálculos da EF Education First, grupo de educação internacional, o Brasil ocupa a 41ª posição no ranking global de domínio do idioma, com apenas 5% da população. Na Argentina, esse percentual é mais de três vezes superior. A integração da Number One ajuda a complementar a oferta da Wiser, já que a escola mineira tem foco na educação para crianças. Já a Wise Up está voltada ao ensino de inglês para adultos. Também há a complementaridade geográfica. “É muito difícil de entrar no mercado mineiro”, diz Wizard Martins. “O consumidor local privilegia a prata da casa.” Essa combinação de fatores deve nortear as compras futura da holding. “É um movimento oportuno”, afirma. “Existem bons ativos com preços atraentes no mercado.”

Dessa forma, a Wiser pode dar passos mais ousados. “Já era de se esperar uma volta da consolidação nesse setor agora em 2017, depois de alguns anos de negócios parados”, afirma Paulo Presse, coordenador de estudos de mercado da Hoper Educação, consultoria especializada no setor. “Há 48 franquias de ensino de idiomas, e vejo duas companhias puxando a consolidação.” A primeira delas é a britânica Pearson, que fez parte da primeira onda de fusões, em 2014, comprando a Wizard, fundada por Martins.

A dificuldade para ela, no momento, passa por uma reorganização global que está em curso, de deixar os seus negócios na área de mídia, para se focar em educação. A outra é a própria Wiser. Redes como a CCAA e a Fisk estão entre as mais desejadas. A expectativa é que os donos dessas marcas estejam mais abertos a negociações do que há poucos anos. Isso porque ambos, além de estarem numa faixa etária mais avançada, acima dos 80 anos de idade, podem estar mais flexíveis – e um tanto arrependidos de não terem vendido os seus negócios em 2014, quando outros empresários fizeram, e serem obrigados agora a enfrentar a prolongada crise atual.