O período das eleições geralmente é caracterizado por um grande nervosismo pelo mercado, sobretudo diante da incerteza que ele representa para a economia do país.

No entanto, para Marco Antonio Rocha, professor Doutor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma das características das eleições de 2022 é ter dois candidatos no segundo turno que já são conhecidos e têm uma agenda que não deve surpreender o mercado.

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“O mercado conhece muito bem qual é a pauta econômica dos candidatos. O que um eventual governo Bolsonaro oferece que agrada o mercado é mais a questão da privatização de empresas, algo que com certeza não ocorreria em eventual governo Lula”, afirma ele.

Ele cita que a questão fiscal, por exemplo, precisa ter uma resposta de quem quer que venças as eleições e será fundamental para o país. “A lei orçamentária está muito aquém do que o país precisa e já não contempla, para o ano que vem, uma série de questões fundamentais, como a explosão da fome, da miséria, etc”, diz ele.

No entanto, durante o período de eleições, ele afirma que os maiores impactos na economia são as medidas de cunho eleitoreiro, que podem até aquecer a economia temporariamente mas acabam gerando um alto preço depois por aumentarem os gastos. Além disso, ele também afirma que a incerteza exerce um papel fundamental, com muitas empresas postergando algumas decisões importantes para depois do pleito eleitoral.

Pedro Forquesato, professor doutor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), vê a questão de forma parecida, citando que muitas empresas acabam entrando em compasso de espera durante o período eleitoral e mesmo em meses anteriores.

“A incerteza com certeza influencia bastante a economia, não apenas pelo aspecto de não se saber de fato qual política vai ser implementada, como também de ter candidatos com propostas diferentes e não existir uma definição de quem vai ganhar”, afirma ele, o que acabou sendo especialmente importante nas eleições de 2022, com sua grande polarização e com uma disputa mais acirrada na medida em que o pleito foi se aproximando.

Impactos em diferentes setores

Já para Sergio Andrade, mestre em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e diretor-executivo da Agenda Pública, empresa que realiza trabalhos junto a governos em setores como governança e políticas públicas, alguns setores são mais afetados pelas eleições por terem uma necessidade maior de investimento e atuação/regulação pública para se desenvolver.

“As empresas farmacêuticas e do setor de alimentos, por exemplo, já têm um maior desenvolvimento e independência do capital público, ficando menos expostas durante o período eleitoral. Já empresas como do setor de construção pesada e tecnologia acabam sofrendo mais, inclusive chegando a fechar”, diz Andrade.

De acordo com ele, o Brasil tem o potencial de criar um mercado consumidor interno e desenvolver setores ainda incipientes sem precisar necessariamente exportar os produtos para o mercado externo. Isso, no entanto, é apontado por analistas como um calcanhar de Aquiles do país, já que o Brasil acaba desenvolvendo produtos com qualidade geralmente inferior aos de mercados mais desenvolvidos.

Embora Andrade considere que o papel de exportador de commodities seja importante para o país por ter permitido que ele desenvolvesse uma indústria especializada em alguns setores, além de ser responsável por boa parte do PIB do país, ele aposta em uma agenda mais desenvolvimentista, com maior investimento do Estado em programas de criação de empregos, em incentivos para a indústria e em educação de forma geral. O diretor ressalta ainda a necessidade de uma economia de baixo carbono em linha com as questões climáticas que têm se tornado tão importantes ultimamente, mas que ainda passam batidas nas agendas dos candidatos.