Fundada em 2011, a Bossa Nova Investimentos fazia aportes pontuais em algumas startups. Mas, em julho de 2016, a companhia estipulou uma meta muito ambiciosa: ter participação acionária em mil empresas até 2020. Até agora, a companhia de venture capital, que aporta dinheiro no estágio inicial, fez investimentos em 170 startups e se associou à aceleradora Ace, que conta com mais 150 empresas. No total, portanto, a Bossa Nova já detém fatias minoritárias em 320 empresas. “É perfeitamente possível chegar em mil”, diz João Kepler, que comanda a Bossa Nova ao lado do empreendedor e fundador Pierre Schurmann. A seu favor, a Bossa Nova também conta com um sócio de peso, o grupo mineiro BMG, dono do banco que leva o mesmo nome. “Temos R$ 100 milhões para investir”, diz Kepler. Acompanhe:

Como acompanhar a administração de mil startups?
É um número que chama atenção. Mas, antes de administrar, temos que encontrar as 1.000 startups. Nosso benchmark é a americana SV Angel, que tem uma tese de portfólio muito interessante. Quanto mais empresas investidas, mais chance de dar certo.

Então a estratégia é atirar em mil alvos para acertar em uns 10?
Exatamente. Na verdade, o estudo projetado é o de que acertaremos nove milionárias ou bilionárias em mil. Não é um número cabalístico, é estudado e há toda uma lógica por trás disso, baseado em anos e anos de estudo e na média mundial de jornadas de startups de 7 anos. Hoje, temos investimentos em 170 empresas e chegaremos a mil até 2020.

Quanto o fundo investe em cada empresa?
Entre R$ 100 mil e R$ 800 mil. Investimos em empresas que estão amadurecendo e têm uma visão clara de para onde elas querem ir. Identificadas essas empresas, a nossa equipe entra em campo para ver o que nos interessa. Temos cinco pessoas hoje e contamos com a infraestrutura de backoffice fornecida pelo nosso sócio, que é o grupo BMG, de Minas Gerais. Temos um sistema de controle de todas startups do nosso portfólio chamado Company Metrics. Todas são obrigadas a integrar os seus sistemas ao nosso. Ali, podemos gerenciar o atual e o futuro portfólio.

Mas ainda está bem longe das mil empresas…
Resolvemos virar sócios em uma aceleradora brasileira para nos ajudar nesse processo, que é a Ace, uma das maiores aceleradoras da América Latina. Com a entrada da Ace, somamos mais 150 empresas ao nosso portfólio. Hoje,
com a Ace, já temos 320 empresas. Lembrando que ainda temos 2018, 2019 e 2020 para chegarmos nas 1000 empresas.

Não é pouco tempo para comprar participação em quase 700 startups?
É perfeitamente possível chegar nesse número. Sem a Ace, a Bossa Nova investiu em 110 empresas em apenas um ano.

Dessas 320 empresas que vocês são sócios, quais se destacam?
A 33/34, que é um ecommerce de sapatos de mulheres de pés pequenos; tem a Hotel Quando, que é hotel por hora e não por diária; tem a SuperAgendador, que é para agendamento de salão de beleza; a Conta Um, uma fintech de carteira digital para empresas…

Vocês já têm empresas milionárias?
Juntas, as empresas de nosso portfólio já valem R$ 3 bilhões.

E qual é a participação que a Bossa Nova tem nas startups?
A média geral é de 8%. Tem empresas em que adquirimos 20% e em outras temos 5%, caso das americanas. A Bossa Nova é a empresa brasileira que mais investe em startups americanas, 77 empresas do nosso portfólio são dos Estados Unidos.

Como a empresa encontra as startups nas quais investe?
Temos associados em Miami, em Hong Kong e aqui no Brasil patrocinamos eventos de tecnologia, somos próximos do ecossistema de startups e tem muita oferta que chega para a gente. Recebemos uma média de 50 projetos por semana. Mas os melhores negócios não são ofertados, são aqueles que são indicados por gente que nos conhece.

O Brasil tem espaço para uma empresa unicórnio (companhias que valem mais de US$ 1 bilhão no jargão das startups)?
Tem espaço e tenho duas empresas no meu portfólio que serão unicórnio dentro de alguns anos.

Se as suas previsões se confirmarem, a Bossa Nova já recupera tudo o que será investido nas mil startups e ainda lucra…
Se uma for unicórnio, eu já recupero.

(Nota publicada na Edição 1032 da revista Dinheiro, com colaboração de: Luís Artur Nogueira e Machado da Costa)