O ciclo de queda do juro iniciado pelo Banco Central em outubro ainda não foi suficiente para aliviar as condições do mercado de crédito. Financiamentos para empresas e famílias ficaram marginalmente mais baratos no final do ano passado, mas a tendência ainda não é clara e, em janeiro, as taxas voltaram a subir nos bancos.

Há consenso entre economistas de que a queda do juro será sentida pelo consumidor nos próximos meses. A partir do segundo trimestre, deve ser gradualmente mais perceptível no bolso da população.

Por enquanto, porém, na maioria dos bancos e lojas, o crédito continua com taxa muito semelhante – ou até mais cara – do que a vista quando a instituição presidida por Ilan Goldfajn começou a afrouxar as condições da economia. O juro do rotativo do cartão, por exemplo, subiu 11 pontos desde outubro, para o novo recorde de 486,8% ao ano – o crédito mais caro oferecido pelos bancos.

Com a lembrança de que a Selic não é a única variável que determina o custo do crédito, economistas dizem que há outros itens que explicam o atraso no repasse ao consumidor. Há, porém, consenso de que o custo dos financiamentos apontará para baixo no médio prazo. É como um regime alimentar, que demora a mudar a silhueta de uma pessoa, mas cujos resultados serão cada vez mais visíveis se a dieta persistir. A dieta, nesse caso, é a tesoura do BC. Se o ritmo dos cortes for acelerado, o custo do crédito cairá mais rápido e visivelmente, dizem economistas.

Queda gradual

Para Fabio Pina, consultor econômico da Fecomércio de São Paulo, o barateamento do crédito ficará consolidado no segundo semestre. Durante o segundo trimestre, diz, as taxas cairão gradual e continuamente.

“A política adotada pelo BC demora a ser percebida devido a muitos fatores. O problema é o rearranjo do mercado e olhar apenas um mês dará uma falsa sensação. Mas, em um horizonte longo, o crédito tem exatamente o mesmo comportamento da Selic”, avalia.

Na esteira do BC, grandes bancos anunciaram queda dos juros em algumas operações. Mas a decisão pode estar sendo encoberta pelo uso do crédito.

O chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, explica que o aumento do juro médio em janeiro teve como uma das causas a maior demanda por operações mais arriscadas – como o crédito rotativo e o cheque especial -, usadas para pagar despesas típicas do início do ano. Como são linhas mais caras, o juro médio acaba subindo no mercado. “Mas devemos ver a retomada da queda do juro no crédito nos próximos meses”, diz.

Histórico

Dados do BC mostram que, de fato, o mercado de crédito reage com atraso de alguns meses à evolução da Selic. Em ciclos recentes de queda da taxa – como o visto entre 2005 e 2007 e entre 2009 e 2011, o juro demorou um pouco a recuar, mas seguiu a tendência e até continuou caindo após o BC ter concluído o ciclo. “Acho que vivemos algo similar atualmente e acredito que a queda será mais clara a partir de março ou abril”, diz o professor de economia da Fundação Getulio Vargas, Rogério Mori.

A economista da consultoria Rosenberg & Associados, Thais Zara, concorda que a redução do juro será mais visível em breve. “Houve um repique pontual em janeiro. No segundo trimestre, haverá tendência mais forte de queda do juro”, avalia. “E esse movimento poderá ser antecipado se o BC acelerar a queda da Selic”, completa. Essa aceleração dos cortes ganhou uma possibilidade maior, na avaliação dos economistas, depois da divulgação, ontem, da ata do Copom relativa à reunião da semana passada, quando a Selic caiu de 13% para 12,25% ao ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.