De costas para Brasília, desistindo de acompanhar os sobressaltos de uma classe política que não para de delinquir, vários empresários estão tomando a decisão de tocar seus negócios sem se preocupar com os desdobramentos de investigações, mudanças eventuais de governo ou brigas partidárias. Esses temas, acreditam, viraram caso de polícia. Atravessaram a fronteira do impacto direto sobre suas escolhas para se acomodar numa dimensão completamente descartável.

Entraram numa realidade à parte, sugerem. O importante é a perspectiva de reformas, advogam esses mesmos empreendedores. Além, naturalmente, dos indicadores de retomada que passaram a despontar. Inflação e juros em queda. Exportações e investimentos internacionais em alta. Câmbio estabilizado. Recuperação da indústria, do comércio e do setor de serviços. São realidades que passaram a compor um tabuleiro de boas novas para azeitar investimentos.

O resultado do PIB no último trimestre surpreendeu até os mais otimistas – o primeiro positivo após oito trimestres consecutivos de recuo – e aguarda-se a continuidade do processo, mesmo que em ritmo mais baixo. As expectativas mudaram. E isso é o que importa. O ciclo positivo entrou em curso e imaginá-lo refluindo rapidamente está fora de cogitação para essa turma. De maneira quase unânime, agentes e analistas de plantão concordam nesse aspecto. O comportamento do mercado (com bolsa em alta, novas operações de abertura de capital, fusões e aquisições) dá a exata dimensão da efervescência.

A blindagem da economia tem a ver com a convicção generalizada de que, seja quem for o chefe da Nação daqui por diante, ninguém ousará mudar o curso das medidas, fazendo o País regredir à era da irresponsabilidade administrativa da gestão Dilma. A iniciativa privada já decretou: recessão e paralisia das atividades são favas contadas, ficaram no passado. As inversões de capital externo, reiterando a aposta dos estrangeiros no potencial local, endossam em boa medida o diagnóstico.

Somente em maio, a balança comercial atingiu auspiciosos US$ 3,4 bilhões de saldo. Valor recorde. Um levantamento da Sociedade de Estudos de Empresas Transnacionais apontou que essas corporações respondem atualmente por 18,6% do investimento agregado no parque produtivo brasileiro. É o maior nível do índice desde 2002. Como um motor de arranque, tal participação trouxe consequências favoráveis em diversas direções. A indústria automobilística, fortemente influenciada pelos humores desse capital, experimentou números promissores.

Crescimento de 18% nos primeiros cinco meses de 2017 (em relação ao mesmo período do ano passado), sendo 28% somente no comparativo maio/maio. A construção civil e o sistema financeiro não ficaram atrás. Também estão colhendo os primeiros sinais de melhora do quadro. O que está evidente nesse contexto é o descolamento entre a política e a economia. Enquanto um chafurda em escândalos sem fim o outro gera indicadores de saúde revigorantes. Que a contaminação não volte a acontecer.

(Nota publicada na Edição 1022 da Revista Dinheiro)