Desde 2005, o Banco Central (BC) tem a missão de perseguir uma inflação de 4,5%. Neste período, o IPCA, índice oficial calculado pelo IBGE, caiu abaixo do alvo apenas três vezes (2006, 2007 e 2009), permanecendo acima do centro da meta em oito anos (2005, 2008, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016). Nada supera, no entanto, o vexame de 2015, quando a inflação chegou aos dois dígitos (10,7%). Sob o comando de Ilan Goldfajn, a partir de junho do ano passado, a nova gestão do BC conseguiu resgatar a credibilidade perdida e, naturalmente, as expectativas para 2017 e 2018 foram sendo ancoradas em 4,5%.

Na prática, projeções no centro da meta significam que os analistas acreditam na seriedade do trabalho da autoridade monetária. É nesse ambiente de elevada confiança no BC, associado a uma inflação corrente baixa, que surge a oportunidade de o Brasil ambicionar uma meta menor. Não se trata de reduzi-la da noite para o dia, numa canetada, mas de sinalizar que o País tem maturidade suficiente para controlar os seus preços. Em junho, o Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, do Planejamento, Dyogo Oliveira, e pelo presidente do BC vai definir a meta para 2019.

Uma redução de 0,25 ponto percentual ou de 0,5 ponto percentual será bem-vinda, mantida a margem de tolerância atual de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Em recente entrevista à DINHEIRO, Ilan, como é conhecido no mercado, afirmou que o Brasil pode ter, no futuro, “metas compatíveis com outras economias emergentes”, ao redor de 3%. Para os críticos, uma meta mais baixa significa uma política de juros mais apertada, o que reduz o crescimento econômico. É balela. Inflação baixa é precondição para a expansão do PIB. Inflação baixa preserva o poder de compra das famílias, aumentando o consumo. Inflação baixa gera previsibilidade nos negócios, atraindo investimentos.

Se alguém ainda acha que um pouquinho de inflação a mais até ajuda o PIB, basta revisitar os números catastróficos do governo Dilma Rousseff. Em 2007, quando Meirelles comandava o BC, o CMN perdeu a oportunidade de reduzir a meta. Naquele momento, o Brasil convivia com uma inflação anual abaixo dos 4,5% por dois anos consecutivos, o que fomentou o debate sobre um alvo inflacionário menor. Apesar de a autoridade monetária também gozar de muita credibilidade, prevaleceu a posição do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, que considerava prioritário o crescimento do PIB e não o controle da inflação. Ele estava errado.

Agora, duas décadas após a criação do Plano Real, o Brasil merece uma moeda mais estável. No mercado de trabalho, já há uma geração de jovens que não vivenciaram a tragédia da hiperinflação. Que bom! Podemos agora preparar outra geração que vai se espantar quando os preços subirem acima de 5%. No País da indexação onipresente, a única forma de eliminá-la é tornando a inflação cada vez menos relevante. O primeiro passo precisa ser dado pelo CMN, em junho. Os brasileiros não merecem ver essa oportunidade de ouro ser desperdiçada novamente.