Uma quadrilha usava um drone para praticar uma nova modalidade de furto a residências de alto padrão, na região do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Com o equipamento, o grupo espionava casas e invadia o local, atuando sem armas de fogo. Formado por nove integrantes, o bando foi preso em flagrante na segunda-feira por policiais civis do Departamento de Investigações Criminais (Deic). Para especialistas em segurança ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, a estratégia para furtos a residências – discreta e precisa – impõe novos desafios.

O grupo no Tatuapé costumava atuar aos finais de semana e feriados, quando há maior probabilidade de a residência estar vazia. “Eles subiam o drone, faziam o levantamento do local e viam se havia movimentação lá dentro ou sinais de moradores, funcionários e animais”, afirmou o delegado César Saad, titular da 1ª Divisão de Instigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas (Divecar), do Deic. “Ainda assim, tocavam campainha, davam uma verificada e, aí sim, entravam para praticar o furto.”

Ao contrário de invasões registradas em outras regiões da capital, com quadrilhas que usavam até fuzil AR-15, esse bando agia sem precisar de armamento. Nenhum dos suspeitos aparece manuseando armas de fogo nas imagens das câmeras de segurança, cedidas à Polícia Civil pelas vítimas. Também não houve apreensão de armas durante a prisão em flagrante.

A Polícia Civil localizou ao menos nove vítimas dos ataques da quadrilha, que mirava residências no Jardim Anália Franco, em área de casas de alto padrão. Com os presos, os policiais apreenderam aparelhos de televisão, notebook, joias, relógios, bicicleta, cartões de crédito e até bebidas. Dentro do cartão de memória do drone, os investigadores encontraram imagens de várias casas.

Com cartões de crédito apreendidos com os presos, os investigadores conseguiram realizar consultas e identificar o nome de uma vítima que havia sido furtada dois dias antes.

A polícia autuou o grupo em flagrante por receptação e associação criminosa. Segundo investigadores, a quadrilha praticava furtos a residências há cerca de dois meses. Três dos nove suspeitos tinham passagem por furto e roubo. O mais velho tem 54 anos e três deles, 18.

Na região do Tatuapé, onde o bando detido atuava, moradores disseram à reportagem não ter percebido o uso de equipamentos como os drones.

Avaliação

O diretor nacional de operações do Grupo GR, que atua na área de segurança patrimonial, Alexandre Judkiewcz, acredita que o uso do drone por ladrões é um aperfeiçoamento de uma estratégia antiga. “Antes, criminosos ficavam em carros, alugavam apartamentos próximos ao local de interesse para observar a movimentação da residência por binóculos. Hoje, os bandidos também usam tecnologia.”

Segundo Judkiewcz, a técnica permite ter informação da forma mais discreta possível. “O entra e sai da casa, se estão de férias ou se fica desocupada em determinados dias e horários são informações importantes para o ladrão.”

Para ele, os proprietários de imóveis devem observar se há equipamentos sobre a casa e por quanto tempo. “Um minuto em cima da residência, por exemplo, é muito e deve, sim, ser denunciado a polícia.”

O especialista em segurança pública e privada Jorge Lordello afirma que a prática ficou mais fácil pelo barateamento da técnica. “Está mais acessível e qualquer pessoa pode comprar na internet.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.