Em pouco mais de quatro meses no comando da Prefeitura da capital paulista, João Doria Jr. consolidou o bordão “Acelera, São Paulo” como uma das suas principais marcas. Na semana passada, a já famosa frase serviu de inspiração para que ele cumprisse uma verdadeira maratona em uma passagem de apenas cinco dias em Nova York e Washington, nos Estados Unidos. Na segunda viagem internacional desde o início de seu mandato, Doria recebeu homenagens e teve uma série de encontros com investidores, empresários e autoridades.

Prêmio: o prefeito paulistano foi homenageado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos com o título de "Person of the Year"
Prêmio: o prefeito paulistano foi homenageado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos com o título de “Person of the Year” (Crédito:William Volcov/Brazil Photo Press/Folhapress)

Entre outros compromissos, a extensa agenda incluiu reuniões com o Goldman Sachs, Bank of America, Citibank e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Outro destaque foi o encontro com Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York, citado por Doria como uma de suas referências. O ponto alto do roteiro, no entanto, foi o jantar da terça-feira 16, no qual o prefeito paulistano recebeu o prêmio “Person of the Year”, concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.

Em seu discurso, Doria observou que o grande marco de sua gestão virá do amplo programa de privatizações. “Nossa expectativa é arrecadar US$ 2,5 bilhões”, afirmou. A relação inclui ativos como o Centro de Convenções do Anhembi e o Autódromo de Interlagos, além de parques e mercados municipais, e terrenos. “São propriedades inúteis e que só trazem despesas.Vamos tornar o Estado mais eficiente.” Ele ressaltou ainda que 100% dos recursos arrecadados serão investidos em saúde, educação, habitação popular, segurança pública, serviços e obras para a cidade.

Realizado no Museu da História Natural de Nova York, o evento contou com a presença de cerca de mil convidados. Entre eles, nomes de peso do cenário empresarial brasileiro e internacional, como Bill Rhodes (Citigroup); José Olympio Pereira (Credit Suisse); Murilo Portugal (Febraban); Luiz Carlos Trabuco (Bradesco); Roberto Setubal (Itaú); Candido Botelho Bracher (Itaú); Benjamin Steinbruch (CSN); Carlos Jereissatti (Iguatemi); e Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. “João Doria é de uma geração que pauta o discurso pela não retórica. Tem mensagem direta e passa uma percepção de transparência e previsibilidade”, disse Trabuco, à DINHEIRO. “Esse reconhecimento em Nova York simboliza a valorização do racionalismo econômico e da livre iniciativa no Brasil.”

Professor de Administração Pública da Universidade de Brasília (UNB), José Matias Pereira também destaca pontos positivos no discurso. “A desestatização é o caminho mais adequado”, diz. “Em um momento de crise e de exaustão da presença da administração pública, não faz sentido o contribuinte financiar os gastos crescentes do Estado.” Especialista em gestão pública do IBMEC, Jerson Carneiro ressalta a capacidade de São Paulo como polo de atração de investimentos. “Poucos lugares têm uma estrutura e um mercado consumidor como a cidade de São Paulo.”

Agenda: a viagem de Doria foi marcada por encontros com empresários e investidores, e contou com a participação do governador Geraldo Alckmin
Agenda: a viagem de Doria foi marcada por encontros com empresários e investidores, e contou com a participação do governador Geraldo Alckmin (Crédito:Divulgação e Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press)

A construção de um ambiente “mais amigável” para os negócios foi mais um fator destacado. Doria convocou os empresários presentes a pressionar, quando necessário e de forma legítima, por melhores condições nessa frente. “Sobretudo o Congresso Nacional, que, nesse momento, tem dois projetos fundamentais para o Brasil”, afirmou, em uma referência às reformas trabalhista e da Previdência. “É importante aprová-las e do jeito que estão, pois os textos já foram muito retalhados.”

A viagem reacendeu ainda o debate sobre uma eventual candidatura à presidência em 2018. Em entrevista concedida à agência Bloomberg, Doria afirmou que não via problemas em concorrer, desde que fosse escolhido democraticamente nas prévias do PSDB. À noite, porém, ele reafirmou seu apoio à participação de Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, no pleito. À parte de especulações, Matias Pereira, da UNB, enxerga boas perspectivas para o prefeito. “Doria está sabendo se posicionar no tabuleiro político de maneira muito inteligente”, diz. “E essa viagem só reforçou o seu ganho de visibilidade. Tanto no Brasil, como no exterior.”