Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar tinha forte alta nesta quarta-feira e superou a marca de 5,20 reais, com investidores mostrando cautela sobre as perspectivas econômicas globais antes da divulgação da ata da última reunião de política monetária do banco central dos Estados Unidos, enquanto a campanha eleitoral presidencial brasileira colaborava para a aversão a risco.

Às 10:13 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,17%, a 5,2004 reais na venda, em alta pelo terceiro pregão consecutivo e sendo negociado acima da marca de 5,20 reais pela primeira vez desde o último dia 5. No pico do dia, a moeda norte-americana saltou 1,45%, a 5,2150 reais.

Na B3, às 10:13 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,88%, a 5,2185 reais.

A divisa norte-americana também tinha alta no exterior contra uma cesta de rivais fortes, embora a valorização fosse bem mais modesta que a observada no mercado de câmbio brasileiro. Por volta de 10h (de Brasília), o índice do dólar avançava 0,3%.

Ao mesmo tempo, várias moedas arriscadas pares do real tinham perdas acentuadas frente ao dólar nesta manhã, com peso chileno, rand sul-africano e dólar australiano recuando mais de 1% no dia.

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, disse à Reuters que o principal motor para o movimento internacional de fortalecimento do dólar tem sido o temor crescente de uma recessão global, que ganhou força nesta quarta-feira após dados mostrarem que o crescimento econômico da zona do euro do segundo trimestre foi revisado para baixo. No início da semana, os mercados internacionais já tinham se assustado com dados surpreendentemente fracos sobre a economia chinesa.

Nos Estados Unidos, por sua vez, alguns dados têm indicado resiliência da economia. Mas isso não joga a favor do real, explicou Pizzani, já que o cenário mais benigno por lá voltou a alimentar apostas de que o Fed aumentará sua taxa de juros em ritmo agressivo de 0,75 ponto percentual em seu próximo encontro de política monetária.

Depois de na semana passada ter visto ajuste menor, de 0,50 ponto, como mais provável, o mercado já mudou a visão e estimava 53% de chance de o Fed aumentar os custos dos empréstimos em 0,75 ponto em setembro.

O banco central norte-americano divulgará a ata de sua última reunião nesta quarta-feira, às 15h (de Brasília), e o documento será avaliado em busca de pistas sobre os próximos passos da instituição.

Além da perspectiva crescente de recessão global e de uma política monetária mais rígida nos Estados Unidos, incertezas domésticas têm reforçado um cenário de dólar mais alto, disse Pizzani.

“Um destaque é o começo da (campanha para as) eleições: isso tem um peso, não são eleições regulares, é uma eleição que vai ser bem polarizada, e a instabilidade tende a afastar capital estrangeiro do Brasil, penalizando o real frente ao dólar.”

Em função das adversidades tanto externas quanto locais, a CM Capital projeta taxa de câmbio de 5,42 reais por dólar ao final de 2022, o que configuraria valorização de 4,23% da moeda norte-americana em relação aos níveis atuais.

O dólar ainda acumula baixa de 6,7% contra a divisa brasileira em 2022, mas está quase 13% acima da mínima para encerramento do ano, de 4,6075 reais, atingida no início de abril.

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