A dívida total da América Latina e do Caribe aumentou para 5,8 trilhões de dólares, o equivalente a 117% do PIB regional, de US$ 3 trilhões em 2008, revelou, nesta quinta-feira (26), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que considera essa tendência preocupante.

No estudo “Lidar com a dívida, menos risco para mais crescimento na América Latina e no Caribe”, o BID acrescenta que a dívida pública em particular passou de representar 58% em 2019 a 72% em 2020, “devido a pacotes ficais relacionados com a covid, receitas menores e recessão”.

Os altos níveis de endividamento impulsionam os investidores a exigirem maiores rendimentos, obrigando os governos a destinar recursos para pagar jutos mais altos, ao invés de disporem deste dinheiro para investir em infraestrutura e serviços públicos. Esta situação reduz a capacidade de responder a futuros choques econômicos, além de aumentar o risco de que ocorra uma crise.

Por isso, os governos deveriam apontar a reduzir o percentual da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), de uma média de 70% a uma faixa de 46%-55%, nível que o BID considera “prudente”. Os países “dependentes de receitas voláteis dos produtos primários” deveriam reduzi-lo ainda mais, aponta o estudo.

“Uma dívida bem administrada e sustentável pode ajudar a liberar o potencial de crescimento abundante da América Latina e do Caribe”, afirma Eric Parrado, economista-chefe do BID, convencido de que a dívida pode se tornar um motor e não um lastro.

O informe propõe reforçar as instituições fiscais para evitar gastar em excesso nos tempos de fartura e criar um colchão para enfrentar os de escassez.

As regras fiscais, que limitam os gastos públicos, são úteis, mas os países da região “cumpriram apenas 57% dos objetivos” que eles próprios traçaram.

“A melhor forma de reduzir a dívida é através de um crescimento maior, combinado com gasto público eficiente e receitas públicas adequadas”, conclui o informe.

– “Um fórum regional” –

Também recomenda reduzir a informalidade e gerenciar ativamente os calendários de amortização da dívida.

“Mais da metade dos países da região enfrentam um serviço da dívida [isto é, pagamentos] de mais de 2,5% do PIB, e um quarto deles de mais de 5%, cifra similar ao gasto com educação”, exemplifica a instituição financeira.

A América Latina e o Caribe devem privilegiar os bancos multilaterais de desenvolvimento e outros credores que praticam taxas menores e prazos maiores aos mercados privados.

O informe aconselha “criar um fórum regional para melhorar a coordenação dos processos de reestruturação da dívida” e complementar as iniciativas internacionais concentradas sobretudo nos países de baixa renda.

A dívida privada também aumentou antes e durante a pandemia.

Um quarto dos países tem crédito doméstico que chega ao menos a 100% do PIB, mas para outro quarto este percentual é inferior a 50% do PIB.

O acesso “continua escasso, especialmente para as famílias, as pequenas e médias empresas (pmes) e as empresas chefiadas por mulheres”, observa o BID.

As estimativas “apontam a uma brecha de 1,8 trilhão de dólares entre a demanda e a oferta de recursos disponíveis para as PMEs”, por exemplo.

Segundo o BID, o nível de endividamento das famílias da região “continua relativamente baixo em comparação com os padrões internacionais, situando-se em 22% do PIB, em média, muito abaixo de outras economias emergentes (35%) e dos países desenvolvidos (77%)”.