Uma auditoria feita no Porto Maravilha por ordem da prefeitura do Rio concluiu que, para a construção do Museu do Amanhã, o município realocou R$ 112,3 milhões originalmente destinados a obras de infraestrutura em uma favela, o Morro do Pinto. A informação consta de relatório obtido pelo Estado, que cita um aditivo feito em contrato da Concessionária Porto Novo S.A., em abril de 2012, para obras na região.

Segundo o documento, o anexo cancelou verba que iria para a comunidade e a destinou ao museu, símbolo da gestão do prefeito Eduardo Paes (PMDB, 2009-2016) e da orla portuária carioca revitalizada. A realocação de recursos intrigou a nova gestão da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), que auditou as contas do Porto Maravilha.

O projeto foi uma das iniciativas de Paes para a recuperação da infraestrutura urbana, dos transportes, do meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural da região portuária. As obras deram à cidade uma nova orla, com um passeio à beira-mar transformado em uma das principais atrações da Olimpíada de 2016. Atualmente, é muito frequentado nos fins de semana e feriados.

O relatório da auditoria foi entregue ao Tribunal de Contas do Município e à Câmara Municipal. No Legislativo, tramita um projeto para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o processo de revitalização da região. O Porto Maravilha é uma operação urbana consorciada (uma espécie de parceria público-privada) administrada pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp). Ela contrata para a execução de obras e prestação de serviços municipais a Concessionária Porto Novo S.A.

Essa empresa tem como acionistas a Odebrecht Properties, do grupo Odebrecht (37,5%), a OAS Ltda (37,5%) e a Carioca Christiani-Nielsen Engenharia (25%). Todas foram citadas na Operação Lava Jato.

Números

A auditoria apurou também que a construção e a manutenção do Museu do Amanhã e do Museu de Arte do Rio (MAR) custaram R$ 686 milhões. Segundo a página da prefeitura na internet, a obra do Museu do Amanhã foi viabilizada por meio da comercialização de certificados de potencial adicional de construção (Cepacs). São títulos para investimento, que renderam R$ 215 milhões para o museu, “sem recursos diretos do Tesouro Municipal”, segundo o município.

O ex-presidente da associação de moradores do Morro do Pinto, Sérgio Lancelloti, vê descaso. “Costumo comparar a revitalização ao carnaval, quando tudo é preparado, mas, depois que a festa acaba, nossa realidade volta ao normal.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.