Por Rafaella Barros e Rodrigo Viga Gaier

(Reuters) – A decisão da Opep+ de realizar o maior corte da produção de petróleo desde 2020 tende a sustentar os preços e pressiona a Petrobras a reajustar valores de combustíveis no Brasil, mas esse movimento antes do segundo turno das eleições é visto como improvável por analistas ouvidos pela Reuters nesta quarta-feira.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e aliados como a Rússia, conhecidos como Opep+, decidiram nesta quarta por um corte de produção de 2 milhões de barris por dia, em reação a temores de recessão global que derrubaram os preços do petróleo de 120 dólares, há três meses, para cerca de 93 dólares o barril. O Brent operava em alta de 2% nesta tarde.

Com o presidente Jair Bolsonaro concorrendo à reeleição, é provável que a Petrobras evite repassar de imediato aumentos do petróleo, disseram analistas.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) Adriano Pires afirma que o preço do petróleo retomou uma trajetória de alta, podendo chegar a 120 dólares o barril, mas que há dúvidas quanto ao repasse pela Petrobras em função do período eleitoral.

“Depois do segundo turno, ou talvez antes, poderemos voltar a ter aumentos no Brasil. A conferir”, disse Pires.

Se o mercado de petróleo se fortalecer mais, pode exacerbar uma defasagem registrada nos últimos dias nos preços locais ante os valores internacionais, segundo analistas da StoneX e a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom).

Para a StoneX, nesta quarta-feira há uma defasagem de 0,32 real/litro nos preços do diesel produzido internamente em relação ao importado, e de 0,22 real/litro para a gasolina.

A manutenção dos preços internos abaixo da média dos produtos importados tende a afastar o interesse de importadores de combustíveis, o que em tese elevaria riscos de oferta local, já que o Brasil depende de importações para atender completamente o mercado.

“Tecnicamente, deveria haver um aumento, a Petrobras deveria ajustar, se você olhar para esse indicador. Mas é muito improvável isso acontecer este mês por conta da questão política, que acaba atrapalhando a tomada de decisão da Petrobras”, disse à Reuters o consultor sênior de petróleo, gás e renováveis da Stonex, Smyllei Curcio.

Procurada, a Petrobras não comentou o assunto imediatamente, mas a empresa tem afirmado que sua política de preço não repassa volatilidades das cotações, aguardando a definição de uma tendência no mercado antes de qualquer movimento.

“SINUCA DE BICO”

Para o economista Aurélio Valporto, da Associação Brasileira dos Investidores Minoritários em Empresas de Capital Aberto (Abradin), o cenário deixa o governo brasileiro em uma “sinuca de bico” a menos de um mês do segundo turno das eleições.

“Ou deixa a Petrobras se comportar como um membro da Opep, aumentando os preços e prejudicando toda a economia, e, consequentemente, reduzindo as possibilidades de reeleição, ou desmonta de uma vez o PPI (Preço de Paridade de Importação)”, disse Valporto.

Já o economista Gilberto Braga, do Ibmec, vê a decisão da aliança de países produtores prejudicial não só ao Brasil como a outros países.

“Diminuir a oferta é uma maneira de fazer com que os preços subam”, disse ele, ressaltando que isso impõe um custo adicional aos países.

A Abicom, associação dos importadores, tem registrado desde o dia 29 de setembro defasagem nos preços dos produtos importados em relação aos produzidos internamente.

Em relatório publicado nesta quarta-feira, a associação disse que, apesar da redução no câmbio na terça-feira, os preços da gasolina e do diesel no mercado internacional apresentaram uma valorização.

Segundo a associação, a defasagem média atual é de 3% no diesel e de 8% na gasolina.

“Considerando o forte viés de alta no mercado internacional, tecnicamente, a Petrobras pode anunciar reajuste no diesel”, disse à Reuters Sérgio Araujo, presidente da Abicom, uma vez que o Brasil é mais dependente da importação do diesel do que da gasolina.

(Por Rafaella Barros e Rodrigo Viga Gaier)

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