A crise política deflagrada na semana passada pode atrasar a agenda econômica de reformas “em algumas semanas”. A avaliação foi feita pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em teleconferência com investidores e clientes do banco JP Morgan. Na teleconferência em inglês, o ministro foi questionado se eventual atraso na tramitação das reformas no Congresso seria em “semanas ou meses”. Ao investidor, Meirelles disse que “minha opinião é em termos de semanas”.

Durante a fala inicial, o ministro da Fazenda reconheceu que a crise política pode “mudar a programação da reforma da Previdência”, mas Meirelles repetiu discurso já feito em outras ocasiões de que o importante é a aprovação do tema. “O ponto principal é que (a reforma) vai mostrar os resultados”, disse, ao comentar que muita gente o questiona sobre eventual atraso de um ou dois meses. “Na verdade, o importante é a confiança de que será aprovado.”

O ministro da Fazenda reafirmou a expectativa de que, a despeito da crise política, o Congresso aprovará a agenda de reformas estruturais. “Eu tenho falado com lideranças políticas e acho que há consenso de que a agenda legislativa vai avançar. No geral, entendo que a agenda de reformas é algo que está além do cenário político”, disse.

Aos investidores, o ministro citou como exemplo a aprovação na semana passada de medida para ajudar a situação financeira dos Estados. Para Meirelles, a aprovação sinaliza o comprometimento do Legislativo com a agenda econômica do governo. “O que estou dizendo é que a reforma da Previdência pode ter uma mudança na programação, mas o ponto básico é que isso vai mostrar resultados”, disse, ao reafirmar a expectativa de aprovação da agenda de reformas.

Durante a teleconferência, Meirelles defendeu que a experiência recente mostra que crises políticas têm impacto limitado na economia quando há comprometimento com a agenda. Em teleconferência com analistas e investidores internacionais, o ministro lembrou de experiências recentes, como em 2002 e 2005, quando a crise política gerou influência temporária, mas a manutenção das políticas recolocou a economia nos trilhos.

“Outro ponto que tenho de mencionar é a minha experiência com crises no Banco Central. Depois de um momento (da crise política), a economia mantém seu fluxo”, disse em teleconferência do banco JP Morgan, ao mencionar as crises de origem política em 2002 – eleição de Luiz Inácio Lula da Silva – e 2005 – mensalão.

“Deixamos claro que a política econômica seria mantida e muito provavelmente qualquer mudança política não mudaria os fundamentos da economia”, disse Meirelles, que foi presidente do BC entre 2003 e 2010. Nessas duas ocasiões, lembrou, a economia retomou a trajetória em seguida.

Além da comparação com as duas crises recentes, o ministro mencionou que o atual momento do Brasil decorre de decisões econômicas tomadas desde 2011 “com afrouxamento fiscal e monetário que geraram a crise”. “Tivemos razões econômicas que tornaram a crise política mais aguda”, disse.