Durou oito meses a lua de mel entre o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), e as escolas de samba. Após o anúncio de que a prefeitura cortará pela metade a subvenção anual de R$ 24 milhões, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) anunciou que não fará desfile em 2018 nessa condição. Os dirigentes cobram uma reunião com Crivella, que está em viagem oficial no exterior.

Procurada, a assessoria de Imprensa do prefeito informou que a Riotur, órgão responsável pela gestão do turismo, está acompanhando o caso. O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, afirmou que aguarda uma audiência com o prefeito. De acordo com Castanheira, a reunião será marcada após Crivella voltar do exterior. Após uma reunião com os dirigentes das principais escolas, na noite de anteontem, a Liesa divulgou nota em que diz que, “a prevalecer a decisão” de Crivella, “as apresentações das escolas de samba no carnaval de 2018 ficarão inviabilizadas”.

“É um valor muito substancial no orçamento das escolas. Representa cerca de um terço do que elas recebem para desfilar. Nós vamos tentar achar uma solução boa para nós e para a prefeitura”, disse Castanheira ontem.

Polêmica

Crivella é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), que, tradicionalmente, condena o carnaval entre seus fiéis. Apesar disso, dirigentes das principais agremiações da Liesa o apoiaram no segundo turno da campanha eleitoral do ano passado. Na campanha, Crivella afirmava que “o candidato não é o missionário ou o bispo”.

Empossado, começou a dar sinais contrários ao carnaval. Não entregou a “chave da cidade” ao Rei Momo, tradição cumprida pelos prefeitos há décadas e não foi ao sambódromo durante os desfiles.

Na semana passada, quando disse ao presidente da Liesa que cortaria a verba municipal, Crivella alegou o objetivo de melhorar o atendimento nas creches do município. Pretende aumentar de R$ 10 para R$ 20 diários o valor pago às instituições que administram creches conveniadas. “O que estamos fazendo é refletir como gastar melhor. Se vamos usar esses recursos para uma festa de três dias ou ao longo de 365 dias”, afirmou o prefeito.

A Liesa argumenta que o desfile das escolas de samba, como principal evento do carnaval carioca, traz benefícios econômicos, cria empregos e valoriza a imagem do Rio, contribuindo para a arrecadação de impostos. Segundo a entidade, cada escola do Grupo Especial recebeu neste ano cerca de R$ 6,6 milhões – R$ 2 milhões da prefeitura, R$ 2,3 milhões da venda de ingressos e R$ 2,3 milhões dos direitos de transmissão via TV Globo.

Como um desfile da elite custa cerca de R$ 8 milhões, as escolas buscam patrocínio para fechar as contas. Em 2016, a Petrobrás, que chegou a repassar R$ 1 milhão a cada escola, interrompeu o patrocínio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.