O mais perigoso de todo esse imbróglio político que tomou conta do País é a ameaça de paralisia da vital, inadiável, pauta de reformas econômicas. Com esse trunfo trabalha a oposição, que não está nada preocupada com o agravamento da crise. Ao contrário. Até torce por ela, visando proveito eleitoral logo adiante. A base aliada já calcula que o segundo trimestre “está perdido”. Em outras palavras: entende que tem chances de conseguir passar, com sorte, a reforma trabalhista, mas descarta destino igual para a previdenciária.

Dá para se ter uma ideia da sabotagem em curso no Parlamento quando se assiste às cenas de descontrole de senadores petistas, que partiram para o enfrentamento físico durante uma sessão, deixando de lado qualquer princípio republicano, em nome da baderna pura e simples. Vai ficando cada dia mais claro que a agenda política deve contaminar a pauta de projetos. Um desatino inominável, cujas consequências vão desde a ameaça de rebaixamento da nota de risco do Brasil por agências de rating até o provável congelamento – mesmo que temporário – dos investimentos internacionais que estavam prestes a desembarcar por aqui.

Analistas estimavam aportes de pelo menos R$ 60 bilhões da iniciativa privada no setor de infraestrutura neste ano. Estão revendo os cálculos. A incerteza é maior, está abalando as expectativas e o medo da recessão voltou a entrar no radar. Como diz o economista José Roberto Mendonça de Barros, o ritmo das votações vai ditar o retorno ou não do Brasil a um cenário recessivo. A esmagadora maioria dos analistas acredita que esse temporal é contornável.

Basta o Congresso seguir fazendo o seu papel, independente do Executivo. Uma questão de responsabilidade – artigo, decerto, raro naquelas paragens nos últimos tempos. O engajamento e mesmo a pressão dos empresários sobre os legisladores, exigindo resultados rápidos, também contará muito. Lembra o professor José Pastore que a pauta em discussão é assunto de Estado, de interesse geral, e não só de um governo. Se o presidente Temer vai permanecer ou não à frente do Planalto deveria, nesse contexto, ser encarado como algo secundário, sem maiores reflexos nos trabalhos da Casa.

Afinal, uma coisa é obstruir a gestão Temer. Outra é estrangular o funcionamento do País e é isso que está mais perto de acontecer nessa toada. No empresariado existe até um certo temor de que a saída de Temer precipite uma onda de disputas sem fim, com partidos e coligações rachados. Com o presidente seguindo adiante, mesmo que enfraquecido, os ânimos podem se acalmar e as atenções voltarem-se para o que realmente interessa. O tempo dirá.

(Nota publicada na Edição 1020 da Revista Dinheiro)