O empreendedor Rubens Augusto montou sua primeira pizzaria, a Patroni, nos anos 1980, em São Paulo. Em 1997, quando abriu sua quarta loja em um shopping center, sentiu um baque. “A loja quase fechou porque no horário do almoço não servíamos pratos além de pizza. E o brasileiro não come pizza no almoço”, diz Augusto. O erro foi corrigido e alguns anos depois, em 2003, quando ele passou a franquear a marca, o cardápio mais amplo se tornou obrigação para evitar que a mesma falha fosse repetida. “É uma questão de padronização”, afirma o fundador da Patroni, que conta com 104 lojas, sendo 90 franqueadas.

Quando enfrentam dificuldades, muitos franqueados culpam a marca pelo fracasso. Mas com um modelo de negócios já consolidado, é preciso olhar para seus próprios erros, especialmente os cometidos antes de o negócio abrir as portas. “O erro mais comum é achar que uma franquia não dá trabalho”, afirma Rodrigo Palermo, consultor do Serviço de Apois às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Há coisas que vêm do franqueador, mas outras do franqueado, como saber fazer contratação de funcionários e ter noção de gestão empresarial.”

Rodrigo Palermo, consultor do Sebrae de São Paulo: “O erro mais comum é acharem que uma franquia não dá trabalho” (Crédito:Divulgação)

Por esses motivos, antes de iniciar uma franquia, é preciso avaliar com calma como será o trabalho e se o franqueado se vê, de fato, fazendo aquilo. Às vezes, a pessoa não tem o perfil de empreendedor, que exige gostar de público, não ter rotina, ser proativo e ter disponibilidade de tempo. “O trabalho vai exigir mais [do que outros trabalhos]. Se a loja está em shopping center, por exemplo, funcionários terão de ter turnos e não existirão sábados nem domingos livres”, diz Altino Cristofoletti Junior, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF).

Uma vez decidido se uma franquia é uma boa opção profissional, o interessado deve saber escolher em qual investir. É comum se guiar pelo gosto pessoal, mas o caminho nem sempre é esse. “Uma coisa é gostar do produto. Outra, trabalhar no segmento. Tem de saber se ele é rentável e como outros franqueados e a concorrência estão”, diz Palermo, do Sebrae, que destaca que algumas marcas são passageiras. “Todo ano tem um modismo. É preciso pensar se aquilo será duradouro.”

Outro erro a se evitar é saber como irá funcionar a relação com a marca. Na Circular de Ofertas de Franquias (COF) de cada empresa são estabelecidas as obrigações para franqueador e franqueado. “Muitos pensam, ‘se eu tivesse uma loja dessas, eu faria assim’. Mas é preciso seguir as normas do COF e talvez não haja essa liberdade”, diz Palermo. Consolidado e bem gerenciada, uma franquia pode oferecer todos os benefícios que um empresário procura, como bons retornos e independência. Mas é preciso saber, por último, se ela continuará dando frutos. “Locadoras de vídeo eram uma excelente opção de franquia há 20 anos. Hoje a tecnologia ficou ultrapassada. Quem tinha uma, teve que começar de novo”, relembra Palermo. “É preciso saber quando sair do negócio.”


Leia as matérias do Especial Franquias:

Muito além da crise
O momento é de oportunidades
“O setor de franquias não tem mais espaço para aventureiros”
A força das líderes
A aposta nos bits e bytes