A Colômbia buscava neste domingo os autores do atentado da véspera em um shopping center de Bogotá, que deixou três mortos e nove feridos, a dois dias do fim do desarmamento da guerrilha das Farc.

“Neste domingo realizaremos um Conselho de Segurança para avaliar os passos adicionais que permitam garantir a tranquilidade de Bogotá”, declarou o presidente Juan Manuel Santos no local da tragédia, o centro comercial Andino, situado na Zona Rosa da capital e muito frequentado por estrangeiros.

As primeiras investigações indicam que um artefato explodiu atrás de um vaso sanitário no banheiro feminino do centro comercial, mas Santos afirmou que ainda não há indícios claros de quem foi o responsável.

Um francesa de 23 anos e duas colombianas, de 31 e 41 anos, morreram devido aos ferimentos.

Entre os nove feridos, há outra francesa em estado crítico.

– A dois dias do desarmamento –

O atentado acontece quando a guerrilha das Farc se prepara para a terceira e última fase da deposição de armas em 20 de junho, como parte do histórico acordo de paz assinado em novembro com o governo, que visa assim a terminar com meio século de um conflito interno que deixou ao menos 260.000 mortos e 60.000 desaparecidos.

Nas últimas duas semanas, a guerrilha deixou 60% de seu arsenal em mão da missão das Nações Unidas na Colômbia, encarregada do processo. É um passo-chave para que 7.000 combatentes iniciem sua transição para um movimento político e a vida civil.

Mas há o temor que o atentado no shopping possa prejudicar o processo de paz.

“Quem quer estragar a festa da paz não vai ter êxito, e tenham a absoluta segurança de que vamos perseguir esses inimigos da paz sem trégua”, advertiu Santos.

Monsenhor Luis Augusto Castro, presidente da Conferência Episcopal colombiana, assegurou que o ataque pode ser “o golpe dos inimigos da paz que, de alguma maneira, querem que o ambiente continue sendo de guerra”.

O chefe das Forcas Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño (conhecido como Timochenko), expressou, por sua vez, no Twitter, que o ataque “só pode vir de alguém que quer fechar os caminhos da paz e da reconciliação”.

Por outro lado, o Exército de Libertação Nacional (ELN), única guerrilha ativa no país e negociando a paz com o governo desde fevereiro, condenou o atentado e assegurou que “há quem pretenda assim prejudicar os processos de paz”.

O governo de Santos e o ELN, com 1.500 combatentes segundo cálculos oficiais, iniciaram diálogos de paz para superar meio século de conflito armado.

Para o analista Jorge Restrepo, diretor do centro de análises do conflito Cerac, o episódio de sábado é reflexo da polaridade que existe no país em relação à paz com as duas guerrilhas.

“Mesmo que não se saiba quem é o autor, é muito provável que o objetivo deste tipo de atentado terrorista é afetar as preferências dos cidadãos em termos desses processos de paz”, avaliou.

– Normalidade –

Horas depois da explosão, bares, restaurantes e discotecas dos arredores do shopping voltaram a funcionar e o movimento se normalizou, embora com menor número de pessoas que o habitual.

“Para mim, é lamentável a perda de vidas”, observou Guillermo Rodríguez, um segurança da discoteca vizinha do shopping.

Mesmo com o pânico causado na população, o presidente pediu aos colombianos que celebrem normalmente o Dia dos Paz (comemorado neste domingo na Colômbia) e anunciou que manterá sua viagem prevista de 20 a 23 de junho a Portugal e França.

“O terrorismo quer é alterar a agenda do país, começando pelo presidente. A resposta a este tipo de ataque e a normalidade”, afirmou Santos.

Este é o segundo atentado de gravidade este ano na capital colombiana. Em 19 de fevereiro, uma explosão perto da Praça dos Touros deixou um policial morto e 25 feridos, sendo dois civis, uma ataque atribuído ao ELN.

A Colômbia vive um conflito armado de mais de meio século envolvendo guerrilheiros, paramilitares e agentes do estado, que já deixou 260 mil mortos, 60 mil desaparecidos e 7,1 milhões de deslocados.

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