No dilema do cobertor curto, a postergação da reforma previdenciária – que vai ficando em segundo plano, dia após dia, diante de outras “prioridades” políticas do Congresso – está provocando uma conta alta. Analistas de várias vertentes já preveem uma dívida bruta acima de 80% do PIB a partir de 2018. Isso é um problema real, desconsiderado por quem no parlamento deveria exibir algum senso de responsabilidade. Somando os pontos da implacável aritmética, será preciso praticamente um ano inteiro de produção nacional para cobrir o rombo. Certamente melhor seria lançar esse papagaio na fileira de compromissos impagáveis. É isso mesmo: o Brasil se aproxima rapidamente da situação de insolvência ou de inadimplência – chame como quiser – especialmente na área previdenciária.

Por culpa e descaso direto dos parlamentares que não quiseram enxergar a urgência de uma solução para o assunto. Passou da hora a votação de uma resposta concreta e positiva dentro dos parâmetros lançados no projeto da equipe econômica. Mas eles dão de ombros. Tratam o tema como mero cabo de guerra entre partidos. Misturam conveniências políticas com necessidades econômicas. Como é possível não perceber o mal que esse adiamento sistemático vem gerando? O governo estuda algumas alternativas imediatistas para manter o caixa sadio. Não encontrou outro jeito. Entrou em discussão o fim do abono salarial – aquele benefício pago aos trabalhadores anualmente que, só no presente exercício, custará cerca de R$ 17 bilhões aos cofres públicos.

Se o naufrágio do projeto da previdência se confirmar, essa e outras ações no plano tributário ganharão força. Mais uma vez, sobra nas costas do contribuinte. Algo inaceitável. De outro ângulo, é possível verificar que o gasto federal também está fugindo rapidamente dos parâmetros estabelecidos. Deverá crescer o dobro do permitido na lei. E a equação para explicar esse desarranjo é simples: enquanto a correção do orçamento segue na faixa dos 3%, os gastos com o INSS sobem a razão de 8% a cada período. Não existe almoço grátis, a não ser na visão deturpada e populista dos opositores de plantão que fazem anarquia eleitoreira enquanto o Tesouro afunda.

A administração Temer, para buscar a transição menos traumática possível, começou a falar em duros cortes nos custos, inclusive na área administrativa e de pessoal. Despesas obrigatórias também podem entrar na faca. O espaço fiscal vem encolhendo rapidamente, muito embora os sinais de recuperação da produção nacional tenham despontado no horizonte. Manter de pé uma meta fiscal diante da sabotagem parlamentar mostrou-se na atual conjuntura um desafio além da conta. Há quem comece a avaliar que o desenvolvimento pleno e estável do País, nesse andar da carruagem, fique para 2019, após a escolha de um novo presidente nas urnas. É tempo precioso perdido a troco de nada.

(Nota publicada na Edição 1026 da Revista Dinheiro)