Comparada com suas centenárias concorrentes europeias, a holding de seguros e corretagem francesa April pode ser considerada jovem. Fundada em 1988, na cidade de Lyon, como uma corretora, ela tornou-se uma das maiores da Europa. No ano passado, faturou € 861 milhões (R$ 3,2 bilhões), emprega 3.800 pessoas e tem negócios em 34 países. Em maio, o Brasil entrou no mapa estratégico da April. Depois de chegar à francesa, em 2010, testando o mercado por meio da distribuição de seguros-viagem, a companhia adquiriu 60% da corretora Public Brokers, por um valor não revelado. Agora, ela pretende disputar o mercado de atacado em algumas das áreas mais competitivas dos setor, como seguros-saúde, previdência privada e seguro de crédito. Com uma diferença: boa parte dos negócios será feita em parceria com os concorrentes.

Parceria: Leandro Elias, da Public Broker (à dir.), e Emmanuel Morandini, da April: aposta na tecnologia (Crédito:Kandrade)

Segundo Emmanuel Morandini, diretor-geral da April, a chave para abrir as portas do mercado é o uso intensivo da tecnologia por quem já conhece o negócio. As empresas tecnológicas focadas em seguros, chamadas insurtechs, não têm conseguido ser disruptivas. “O cliente quer tratar com gente, então a linha de frente tem de ter pessoas trabalhando, mas toda a estrutura de apoio pode ser informatizada.” As seguradoras e corretoras já estabelecidas, avalia, terão os maiores ganhos de escala com o uso da tecnologia. Não por acaso, um dos nichos de negócio da April é perstar serviços, para concorrentes.

“Em alguns países que atuamos, o cliente pensa que está tratando com um funcionário da seguradora que ele conhece, mas os sistemas são nossos”, diz Morandini. “Executamos todo o processo, a seguradora ou o banco parceiros apenas definem a estratégia comercial.” Ele cita como exemplo os seguros de crédito, exigidos pelos bancos na hora de conceder um empréstimo vultoso, como um financiamento imobiliário. Na hora de avaliar o risco, os bancos costumam fazer um cálculo aproximado e cobrar valores semelhantes para clientes com riscos diferentes. “Ao medirmos os riscos com mais precisão, podemos calcular melhor os preços”, diz. “O cliente paga menos e o banco lucra mais, pois baixamos a sinistralidade.”

Leandro Elias, criador da Public Brokers, diz que outra linha importante de negócios serão as apólices de seguro-saúde corporativas, vendidas para empresas com mais de 100 funcionários. “Na grande maioria dos casos, a empresa paga mais do que deveria pelos serviços, e podemos melhorar esse quadro”, diz. A formação de parcerias é uma tendência crescente no mercado, avalia o consultor Augusto Sabóia, especialista em seguros e previdência internacional. “O cliente é cada vez mais sensível a preço. Por isso, para as seguradoras, é um bom negócio cortar custos com essas parcerias”, diz ele. “No fim do dia, quem ganha com esse aumento na concorrência é o consumidor.”