O vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa Econômica Federal, Arno Meyer, disse que o banco não mudou suas projeções para a macroeconomia após a turbulência gerada no País com as delações da JBS e que segue acompanhando o cenário. “Não sei se a economia vai ser afetada mais ou menos pela volatilidade atual”, afirmou o executivo, em conversa com jornalistas, nesta quarta-feira, 24.

De acordo com Meyer, a Caixa segue debruçada nos desafios já divulgados que incluem a melhora da eficiência, da rentabilidade, que ocorre ainda que de forma lenta, e do crescimento das receitas com serviços e tarifas. Os números do primeiro trimestre, segundo ele, já apontam nestas direções.

Sobre o aumento dos calotes no crédito à habitação no primeiro trimestre, quando comparado com os três últimos meses de 2016, o vice-presidente de habitação da Caixa, Nelson Antônio de Souza, disse que foi causado pela carteira de pessoa jurídica em meio à situação do setor, com algumas empresas entrando com pedido de recuperação judicial. Na pessoa física, conforme ele, o indicador segue em queda.

“A inadimplência da carteira de habitação está sob controle e o aumento tem aspecto sazonal”, acrescentou Souza.

Ao término de março, a carteira de habitação apresentou inadimplência de 1,99%, com declínio de 0,35 ponto porcentual em 12 meses. Em relação a dezembro, porém, voltou a subir, com alta de 0,36 p.p.

Reforço de capitalização

A Caixa Econômica Federal não conta com reforço do governo para melhorar o seu capital, de acordo com o vice-presidente de Finanças e Controladoria da instituição. “Estamos reforçando a nossa estrutura de capital via a geração de resultados e também com o corte de despesas. Não contamos com o Ministério da Fazenda para isso”, disse.

Sobre a abertura de capital das operações de seguros do banco, concentradas na holding Caixa Seguridade, e a venda de uma parte da rede de loterias, a Lotex, Meyer afirmou que a Caixa também não conta com essas operações para reforço de capital e que cumprirá as regras de Basileia III sem as mesmas e sem aporte do governo.

O índice de Basileia do banco foi a 13,59% no primeiro trimestre, redução de 0,1 ponto porcentual em um ano, quando estava em 13,69%. Na comparação com os três meses anteriores houve melhora de 0,05 ponto porcentual.

Do total, os índices de Capital Principal e Nível I responderam por 8,9% ao final de março, redução de 0,53 p.p. em relação a dezembro e de 0,63 p.p. em 12 meses.

Em março de 2017, o Patrimônio de Referência da Caixa somava R$ 79,0 bilhões, 4,7% maior em um ano e 1,6% acima dos três meses anteriores. Já os Ativos Ponderados pelo Risco (RWA) totalizaram R$ 581,2 bilhões, altas de 5,5% e 1,2%, respectivamente.

Operações com a JBS

As operações de crédito da JBS junto à Caixa Econômica Federal estão “normais” e não há constatação de inadimplência por parte da empresa, de acordo Arno Meyer. A Caixa é um dos bancos credores com exposição à JBS.

“Não tenho conhecimento sobre irregularidades nas operações da JBS e não posso responder sobre o que vai acontecer com as operações da JBS daqui para frente”, explicou ele, em teleconferência com jornalistas.

Meyer reforçou que a Caixa não faz comentários individuais de clientes em seu balanço, quando questionado sobre JBS. Segundo ele, a adoção de medidas em relação aos créditos que a empresa possui com o banco público, levando em conta o seu envolvimento na Operação Lava Jato, podem ser conhecidas no segundo trimestre.

Eldorado

O vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa Econômica Federal afirmou que ainda não é possível mensurar o valor da Eldorado Brasil Celulose, pertencente à holding J&F, uma vez que o fundo de pensão dos funcionários da Caixa, Funcef, que detém participação na empresa ainda não divulgou seu balanço, o que deve ocorrer até junho.

A auditoria Ernst & Young manteve, em relatório que acompanha as demonstrações financeiras da Caixa do primeiro trimestre deste ano, a ressalva por conta do investimento da Funcef na Eldorado. Ao final de novembro último, o investimento do Florestal Fundo de Investimentos Participações (“FIP Florestal”), que detém participação na empresa era de R$ 1,6 bilhão, conforme constava no balanço do fundo de pensão, com base em laudo de avaliação econômico-financeira de 2015. O laudo de avaliação econômico-financeira da Eldorado, de 31 de dezembro de 2016, ainda não foi concluído.

“A Funcef não publicou balanço. Não temos o valor do ativo. Na apresentação do resultado de 2016, explicamos que não consideramos o valor do laudo em 2015, mas de R$ 700 milhões, que é o valor efetivo. Temos de esperar o valor apurado pela Funcef, que tem até junho para apresentar seu balanço”, explicou Meyer.

Diante disso, a Ernst & Young destaca, em relatório, que não foi possível mensurar e concluir sobre os impactos do investimento do fundo FIP Florestal no valor justo dos ativos dos planos de aposentadoria da Caixa, e consequentemente, no saldo do passivo atuarial e do patrimônio líquido de 31 de março de 2017.