São Paulo, 07 – Diante do crescente consumo de café no mundo, principalmente dos chamados grãos especiais, a brasileira Ipanema Coffees tem investido em novos mercados locais. Segundo Washington Rodrigues, CEO da companhia que já foi fornecedora exclusiva da Starbucks no Brasil, a atenção hoje está voltada para empresas como a Lawson, companhia japonesa pouco conhecida no Brasil, mas de grande relevância naquele país, controlando milhares de lojas. “Hoje há grandes players regionais. É óbvio que a Starbucks e a Nespresso são players importantes. Mas, em compensação, enquanto a Starbucks tem cerca de 15 mil lojas no mundo, a Lawson tem 12 mil somente no Japão. O que temos aqui não é uma notoriedade global, mas a presença local que faz com que nossa penetração seja maior”, explicou Rodrigues. Além da parceria com a Lawson, foi lançada neste ano a edição especial de café Ipanema Reserve Brazilian pela rede norte-americana Circle K, que tem perto de 7 mil lojas nos Estados Unidos. Também estão na lista de clientes gigantes como a Nespresso e Starbucks, além de outras marcas nacionais e internacionais. A Ipanema Coffees, com sede em Minas Gerais, exporta entre 70% e 80% de toda sua produção. Com 14 milhões de pés de café plantados em três fazendas no sul de Minas, em um total de 3.500 hectares, a empresa faz parte do segmento de mercado de grãos finos, que, segundo Rodrigues, tem uma oferta que não cresce na mesma proporção que a demanda. “Os fornecedores de café são basicamente os mesmos para uma parcela de clientes e consumo cada vez maior”. Para fazer frente a essa demanda, conquistar novos mercados e manter os fornecedores atuais, a empresa tem investido para mitigar o máximo possível um efeito típico do café e que reduz drasticamente a produção: a bianualidade, característica marcante do arábica, que alterna ano de safra “cheia” com outro de safra pequena. Por meio de investimentos em técnicas como irrigação e poda, a empresa tem conseguido reduzir as perdas ano a ano. Outro tipo de café cultivado no Brasil, o conilon (robusta), não sente os efeitos da bianualidade com a mesma intensidade. Tido como mais amargo e com maior teor de cafeína, o conilon é utilizado nas misturas (blends) com o arábica. Na safra 2013/14, a Ipanema produziu 157 mil sacas de 60 kg de café arábica (recorde da empresa). Na safra seguinte, caiu para 69 mil sacas. Em 2015/16, a produção foi de 127 mil, mas na safra seguinte, 2016/17, a queda foi menor, para 87 mil sacas. Para as próximas safras, a diminuição com a bianualidade deve continuar a ser perseguida, recuando de 135 mil sacas estimadas para a temporada 2017/18, para 90 mil no período 2018/19. Com a forte demanda, Rodrigues destacou que a empresa tem espaço para elevar sua produção entre 5 mil e 10 mil sacas por ano nos próximos 10 anos. “Temos esse potencial e vamos atrás desse resultado em uma velocidade consistente. Podemos vir a adquirir fazendas? Sim. Mas talvez o maior viés de crescimento nosso seja a transferência de tecnologia com parceiros. Estamos, inclusive, fazendo testes em fazendas próximas com o apoio de pequenos produtores.” Rodrigues explicou que o maior problema da bianualidade para as empresas é como manter o fornecimento para clientes cativos diante dessas grandes oscilações. “A Ipanema está trabalhando tecnicamente para eliminá-la. Mas não é algo barato. Para se ter uma ideia, o custo da irrigação é o mesmo do plantio. Ou seja, o agricultor tem de escolher entre plantar 100 hectares não irrigados ou 50 hectares irrigados com o mesmo recurso”, ponderou. Além disso, Rodrigues observou que a safra na região de Minas Gerais está “trocada”, em termos de bianualidade, por causa de uma seca que dizimou as plantações em 2010/11. Com isso, enquanto o resto do Brasil vai migrar para uma safra menor na próxima temporada, a região de Minas deve colher uma safra cheia. “Existe uma ilusão de que o Brasil acabou com a bianualidade. Isso não é verdade. Os ciclos apenas estão invertidos em algumas regiões”, informou. Preço A oferta global de café tem se mostrado deficitária em relação à demanda, nos últimos dois anos. Números da Organização Internacional de Café (OIC) mostram que o consumo mundial em 2015/16 está projetado em 155,7 milhões de sacas, enquanto a produção foi de 151,4 milhões. Com isso, a tendência é de alta das cotações internacionais do grão. Boa parte desse desequilíbrio é resultado da escassez de conilon, provocada pela estiagem nas últimas duas safras no Espírito Santo, principal Estado produtor da variedade no Brasil. As cotações do conilon chegaram a superar os do arábica no mercado brasileiro, diversas vezes nos últimos meses, e as indústrias começaram a usar o arábica de qualidade inferior para completar seus blends. “Há espaço para as cotações do arábica reagirem dos atuais 140 centavos de dólar por libra-peso na Bolsa de Nova York. O atual nível de preço representa muito mais os movimentos do dólar e a questão política nos Estados Unidos do que a realidade do mercado”, argumentou Rodrigues. Ele salientou, ainda, que o arábica mais nobre, especial ou gourmet, tem sustentação adicional de uma espécie de “colchão”. Esse seguro, segundo ele, é um prêmio pela qualidade do grão e um reflexo da tecnologia de produção, que os diferencia dos demais e rende maior poder de barganha por parte do vendedor. “O que observamos agora é que começa a surgir a possibilidade de se fechar contratos de longo prazo, bem específicos com os players, e eles vão retirando a importância da Bolsa de Nova York como referência. Mas é claro que a queda em Nova York afeta o mercado todo, já que ou ela significa uma retração no mercado, ou abundância, ou crise nas commodities. Estamos todos no mesmo barco”, concluiu.