Somados, os PIBs dos cinco integrantes dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) praticamente equivalem ao dos Estados Unidos. São US$ 16,5 trilhões contra US$ 18 trilhões da maior economia do mundo. Dado o ritmo acelerado de expansão da China e da Índia, é possível prever que esse bloco de emergentes irá tomar a dianteira na próxima década. Há, no entanto, um atalho para que isso ocorra de forma mais rápida. Se depender da Rússia, os BRICS podem acrescentar mais algumas letras às reunidas pelo economista inglês Jim O’Neill, em 2001.

A sugestão foi apresentada pelo ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, ao ministro José Serra, em seu último compromisso como chefe do Itamaraty, no mês passado, na Alemanha. Por razões médicas, Serra pediu demissão e foi substituído, na quinta-feira 2, pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que exercia a função de líder do governo no Senado. A conversa entre os dois chanceleres ocorreu em paralelo à reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20, na cidade alemã de Bonn.

O antigo e o novo chanceler: (à dir.) o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) ocupará a vaga do senador José Serra (PSDB-SP) no comando do Itamaraty
O antigo e o novo chanceler: (à dir.) o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) ocupará a vaga do senador José Serra (PSDB-SP) no comando do Itamaraty (Crédito:Waldemir Barreto)

Em nota oficial, o MID (sigla pela qual o Ministério das Relações Exteriores da Rússia é conhecido mundialmente) relata que os dois ministros confirmaram a intenção de prosseguir com as relações de parceria estratégica entre os países. “As partes discutiram um calendário dos próximos contatos políticos de alto nível, de oportunidades para expandir o arcabouço jurídico dessas relações e aumentar a cooperação internacional, principalmente dentro das principais organizações multilaterais – ONU, BRICS, G20 – e com os países latino-americanos”.

O Itamaraty não se pronuncia oficialmente sobre o encontro, mas a DINHEIRO confirmou a informação com um diplomata a par do assunto. “A questão dos BRICS foi discutida, sim”, afirma o diplomata, que pede para não ser identificado. “Mas ainda não está sobre a mesa, oficialmente, uma proposta de ampliação do bloco.” Num primeiro momento, a ideia da Rússia não contempla a ampliação definitiva do número de sócios dos BRICS, mas um convite para que alguns países, como Malásia, Indonésia e Argentina, participem ativamente de todos os encontros.

Essa ampliação dos BRICS, ainda que apenas informal numa primeira etapa, pode significar mais força política e econômica. “Para a Rússia, os BRICS são um contraponto ao Ocidente – a Europa e os Estados Unidos”, afirma Carlos Gustavo Poggio Teixeira, professor de Relações Internacionais da FAAP. “Ao fortalecer essa coalizão, Vladimir Putin se posiciona estrategicamente em relação ao governo Donald Trump.” Poggio, que também é coordenador do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, salienta que o Brasil pode ficar numa saia justa, pois não há interesse do Palácio do Planalto em gerar intrigas com os Estados Unidos e a Europa.

A próxima reunião dos chefes de Estado e de Governo dos BRICS será em setembro, na China. Antes disso, no fim de março, os ministros de Finanças do bloco se encontram na Índia para definir os critérios para a entrada de novos membros no Novo Banco de Desenvolvimento, nome oficial do banco dos BRICS. A instituição, com capital autorizado de até US$ 100 bilhões, quer se tornar uma fonte alternativa de empréstimos ao FMI e ao Banco Mundial, que são controlados por europeus e americanos.

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