A venda de um negócio pelo valor simbólico de R$ 1 diz muito sobre os problemas que o comprador irá enfrentar. É o caso da BR Pharma, rede criada em dezembro de 2009 pelo Banco BTG Pactual para ser o grupo concentrador de farmácias e drogarias. Segundo rumores de mercado, ela está muito próxima de ser entregue para o executivo Paulo Remy, ex-CEO da WTorre. Remy, que detém 10% de participação na empresa criada por Walter Torre, deixou o comando da companhia no final do ano passado para montar uma empresa especializada, justamente, em recuperação de negócios problemáticos.

Ele foi o responsável pela reestruturação das Lojas Americanas e da marca de roupas Vila Romana. Na WTorre, onde esteve por 10 anos, teve um papel importante no desenvolvimento dos projetos e na renegociação das dívidas. Em 2015, por exemplo, reuniu sua equipe e avisou que o mercado de crédito ficaria restrito e, por isso, era preciso montar uma estratégia para os dias turbulentos que viriam. A empresa perdeu contratos, mas fez poucas demissões. No ano seguinte, Remy precisou se reunir com os bancos para prolongar o prazo de pagamento do endividamento da WTorre.

“A motivação do Remy é recuperar empresas”, diz uma pessoa próxima. “Ele tem um trânsito muito bom no setor financeiro e é respeitado no mercado.” Nas pretensões de Remy, a BR Pharma se encaixa com precisão: é um negócio que deu errado desde o início. O plano da empresa era adquirir a Drogasil para que essa marca fosse a consolidadora das aquisições que seriam feitas depois. Apesar das investidas do BTG, os sócios da Drogasil declinaram e escolheram a fusão com a Droga Raia. Deixaram de receber alguns milhões de reais, um punhado de ações e uma cadeira no conselho do banco.

Bom negócio: as marcas Farmais e Big Ben são dois ativos valiosos; Rosário e Mais Econômica, as mais problemáticas, foram vendidas pelo BTG
Bom negócio: as marcas Farmais e Big Ben são dois ativos valiosos; Rosário e Mais Econômica, as mais problemáticas, foram vendidas pelo BTG (Crédito:Divulgação)

A união Raia Drogasil, realizada em novembro de 2011, é um sucesso. Hoje, o grupo tem mais de 1,2 mil lojas e valor de mercado de R$ 20,9 bilhões, ante 822 lojas da BR Pharma e valor de mercado de R$ 860,6 milhões. “A BR Pharma perdeu o rumo com poucos meses de vida”, diz um executivo que participou da criação da empresa. “O passo da Drogasil quebrou a espinha dorsal de todo aquele planejamento.” A BR Pharma foi ao mercado e comprou redes médias por preços questionáveis. Entraram nessa cesta Big Ben (PA), Guararapes (PE), Mais Econômica (RS), Farmácia Sant’ana (BA) e Farmais (SP).

Como não havia uma marca concentradora, os antigos donos eram convidados a permanecer no negócio e recebiam incentivos de expansão que não combinavam com o setor varejista. Na Mais Econômica, por exemplo, o bônus estava atrelado ao número de lojas abertas. A marca deu um boom no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O preço, porém, foi alto. Em 2013, no auge da BR Pharma, quando o número de lojas ultrapassava 1,2 mil, a Mais Econômica foi a bandeira que mais teve de fechar unidades: 70%, de um total de 40.

Essa independência de atuação aconteceu pela falta de integração dos negócios: o BTG nunca conseguiu unir os sistemas tecnológicos de suas bandeiras, mesmo com investimento pesado em software. “O BTG sempre achou que investimento é liberar dinheiro e esperar retornos altos”, diz um ex-executivo da BR Pharma. “Mas, no varejo, é preciso muito suor e eles não estavam dispostos a aceitar margens apertadas.” Desde que o BTG começou a se desfazer de seus ativos não prioritários, há dois anos, a BR Pharma estava no topo da lista.

A dificuldade, porém, foi encontrar interessados em assumir um negócio que acumula prejuízos. A rede não reporta lucro desde 2013. Nos nove primeiros meses do ano passado, houve uma perda de R$ 254,3 milhões, que foi parcialmente minimizada com as vendas das redes Rosário, para a Profarma, por R$ 173,4 milhões; e Mais Econômica, para o fundo de americano Verti Capital, por US$ 12 milhões. Sem essas duas redes, o endividamento que estava em R$ 913 milhões, em 2015, caiu para R$ 658 milhões, no ano passado.

“O BTG precisa dessa saída estratégica para se concentrar no que faz melhor, a administração de recursos”, diz Henrique Kleine, analista-chefe da Magliano Corretora. “A BR Phama poderá se desenvolver com pessoas que entendem do setor.” A expectativa, porém, era vender a Big Ben, a joia da coroa que poderia render R$ 1 bilhão. Como o BTG não conseguiu, agora Remy pode ter a chance de dar o remédio certo para a BR Pharma sobreviver. Procurados, BTG Pactual, BR Pharma e Paulo Remy não se manifestaram sobre o negócio.

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