A Bovespa e os mercados de câmbio e juros futuros estão travados após abrirem nos limites de oscilações permitidos (queda de 10% na Bolsa e alta de mais de 5% do dólar), em reação à nova crise política envolvendo o presidente Michel Temer e o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves, que já foi afastado do cargo de senador pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O clima é tenso pela percepção dos investidores de que as reformas trabalhista e da Previdência correm riscos e que o presidente Michel Temer terá que sair do cargo, seja por meio de renúncia, cassação ou impeachment, disse um diretor de uma corretora.

Após o dólar futuro para junho ter começado a sessão com alta de 5,63%, aos R$ 3,3235, o mercado futuro parou as negociações. O mercado à vista, o dólar também abriu no limite de alta e se mantém no mesmo patamar, aos R$ 3,3137 (+5,73%). “O mercado futuro está no limite de alta e só pode operar dólar junho na compra a R$ 3,3235”, disse um gerente de mesa de derivativos de uma gestora de recursos.

Já na Bovespa, depois de cair 10,02% na abertura, não há negócios para o contrato futuro de Ibovespa com vencimento em junho. Como logo no início da sessão, a pontuação desse contrato chegou ao limite mínimo (61.180 pontos) e o mercado está parado. “Pela regra da Bolsa, não serão fechados negócios abaixo dessa pontuação. As pessoas só podem negociar até esse preço”, afirmou o analista da Clear Corretora, Raphael Figueredo.

No leilão de abertura, a ações da Petrobrás chegaram a cair quase 50%. Segundo analistas, no entanto, a tendência é de ajuste no decorrer do pregão.

No pré-mercado em Nova York, a maior carteira de fundos do Brasil caía mais de 13% nesta manhã e os American Depositary Receipts (ADRs) de empresas brasileiras também operavam em forte baixa, com os papéis da Petrobras em queda de 14,6%, os do Itaú Unibanco caíam 12,4% e os da Vale recuavam 8,9% um pouco mais cedo. No Japão, o mais popular fundo de índice de ações do Brasil, o Next Funds Ibovespa Linked ETF, fechou em queda de 7,54%.

A forte queda de ativos brasileiros negociados no exterior já dá uma ideia da tormenta que guiará os mercados após o executivo Joesley Batista, do Grupo JBS, ter revelado ontem à noite conversas gravadas em que o presidente Michel Temer dá aval para a compra do silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo informação do jornal O Globo confirmada pelo Estado. “Tem que manter isso, viu?”, disse Temer sobre mesada milionária a Cunha.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, a expectativa é de uma destruição muito grande de riquezas nos próximos dias, e há um grande risco de investidores estrangeiros deixarem o País para não voltar tão cedo. “O mercado vinha apostando numa melhora de cenário aliada à expectativa de que a reforma da Previdência seria aprovada, mas agora não há mais espaço para isso”, disse. “Tudo o que conseguimos nesse um ano de governo Temer está sendo perdido.”

Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o que mais se lamenta é que as reformas vão ficar paradas. “Vamos pagar o preço pela irresponsabilidade do presidente Temer”, disse. Na avaliação de Vale, se não tiver uma solução rápida para essa crise, “o País será jogado novamente para o caos”.

Para o estrategista-chefe da Upside Investor, Renan Sujii, a reação dos mercados financeiros hoje deve ser bastante forte, não podendo ser descartada a possibilidade de intervenção do Banco Central no câmbio e o acionamento do “circuit breaker” no mercado de ações – ferramenta usada para interromper as negociações quando os papéis têm volatilidade muito forte. “Temos um divisor de águas agora, com o agravante de não sabermos o que vem pela frente”, disse.

Delação

Em delação premiada a procuradores da Lava Jato, Joesley diz ter gravado conversa com Temer na noite de 7 de março durante reunião de cerca de 40 minutos no Palácio do Jaburu. O executivo entregou também o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do partido, com gravação em que o senador pede a quantia de R$ 2 milhões sob o argumento de que precisava de dinheiro para a defesa na Operação Lava Jato. Joesley quis saber quem pegaria as malas com dinheiro e a resposta de Aécio teria sido: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”.

Nesta manhã o senador tucano é alvo nesta manhã de operação da Polícia Federal, que cumpre mandados nos imóveis de Aécio no Rio e Belo Horizonte e no gabinete Zezé Perrella no Senado. O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou  a prisão preventiva de Andrea Neves, irmã de Aécio, que teria pedido dinheiro em nome do irmão para Joesley Batista. Conforme apurou o Estado, Andrea não foi localizada.

A PF acionará a Interpol, pois tem a informação de que a irmã de Aécio estaria em Londres. O STF também determinou o afastamento do senador Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato de senador e do deputado Rocha Loures (PMDB-PR) do mandato de deputado federal. A oposição no Senado se reuniu logo após a notícia do suposto áudio e montou um plano de ação que consiste em um pedido de impeachment, na pressão pela renúncia do presidente e pela paralisação da análise das reformas do governo no Congresso Nacional.

A oposição vai se mobilizar na manhã desta quinta-feira na Comissão de Constituição de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para colocar em votação a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite as eleições diretas. O PSDB, partido mais fiel e aliado do governo Temer, já admite que a permanência do presidente fica “insustentável”. Interlocutores de integrantes da Corte Eleitoral ouvidos pelo Broadcast avaliam que as novas revelações podem complicar a situação de Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O Palácio do Planalto divulgou nota oficial ontem na qual Temer nega ter negociado o repasse de dinheiro para comprar o silêncio de Cunha. Reconhece o encontro com Joesley, mas diz que não houve, na conversa, “nada que comprometesse”. No exterior é também de aversão a risco mas por causa de outro presidente, Donald Trump, e a incerteza sobre se será capaz de cumprir suas promessas políticas de crescimento dos Estados Unidos, como redução de impostos e de gastos do governo.