A Bovespa é uma das bolsas que mais subiram no mundo nos últimos meses e a percepção de analistas é de que há espaço para mais ganhos. A expectativa de recuperação da economia brasileira, em meio à queda da inflação e dos juros e do avanço do ajuste fiscal, após quase três anos de forte recessão, estimula os investidores, sobretudo os estrangeiros, a aumentar a exposição aos ativos domésticos e minimizar riscos que ainda permeiam o cenário.

Em dólares, a Bovespa registra ganho ao redor de 121% em um ano, muito mais que as bolsas dos EUA, onde o Dow Jones sobe 28,8% e o Nasdaq avança 33,7%, e também bastante acima de outros mercados importantes, como o México (1,74%), Japão (21,4%) e Alemanha (21,5%). “O Brasil dobrou a esquina”, disse ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o economista William Adams, do americano PNC Bank, destacando a expectativa de que a atividade ganhe força mais para o final de 2017.

Para o analista da gestora Bulltick em Miami, Klaus Spielkamp, o Brasil se beneficia “em dobro” do momento atual de maior liquidez e apetite por risco no mercado internacional, que começou com a vitória de Donald Trump em novembro. “O País passa a impressão de que está fazendo o dever de casa”, disse ele, citando o andamento do ajuste fiscal, a queda da inflação e dos juros. “Estes fatores estão trazendo os investimentos de volta para o País.”

Spielkamp conta que muitos de seus clientes haviam deixado de comprar o risco Brasil com o início do governo de Dilma Rousseff, com alguns se desfazendo totalmente de suas posições no País. “Atualmente meus clientes estão voltando a dar atenção a esse risco”, disse ele, citando ainda que os prêmios oferecidos pelos ativos do País estão atrativos em relação a outros mercados vizinhos, como Colômbia, Peru e México.

O diretor-executivo para América Latina da INTL FCStone, Alexandre Artman, também sediado na Flórida, aponta que o “desinteresse” dos estrangeiros com o Brasil chegou no fundo do poço e que daqui para a frente os fluxos para o mercado doméstico devem aumentar.

A consultoria deve até inaugurar uma unidade de corretagem no Brasil em meados do ano, para aproveitar esse momento de maior interesse pela Bovespa. “De um modo geral, os mercados globais estão bastante esticados, mas o Brasil ainda tem espaço para subir”, disse.

Aposta. Em meio ao clima de otimismo com o Brasil, o País é uma das principais apostas da gestora americana Oppenheimer Funds, que administra US$ 216 bilhões em ativos. Com a perspectiva de melhora da economia, a gestora está mudando sua carteira e procurando incluir empresas mais expostas ao mercado doméstico, ou seja, que se beneficiariam da retomada da economia, como o setor de logística, afirmam os analistas Marcelo Menusso, Chris Kelly e Cláudia Castro, em um relatório a investidores.

Para o diretor de equities do Santander, André Rosenblit, a forte liquidez existente no mundo, de quase US$ 180 trilhões, somada à expectativa de recuperação no lucro das empresas brasileiras de capital aberto – que o banco estima em 18% este ano – deve garantir a continuidade de fluxos para o País. “A percepção de risco/retorno sobre o Brasil na cabeça do investidor estrangeiro hoje está aparentemente baixa, então eles aproveitam o momento para entrar no mercado local. Ainda tem muito dinheiro para vir.”