Olhando apenas os números, a moeda virtual Bitcoin parece ser o melhor negócio do mundo. Ela encerrou 2016 cotada a US$ 958 e fechou, na quinta-feira 24, a US$ 4.339, uma valorização de 352% em oito meses. Qualquer profissional de mercado que já passou por uma crise sabe que variações de dois dígitos em um único ativo em menos de 12 meses são um sinal de problemas. Altas desse tipo, então, são ainda mais suspeitas. Como explicar esse movimento?

Para entender como as cotações de uma moeda virtual, não-regulamentada, que ainda é pouco aceita mesmo em transações digitais, podem subir tanto, é preciso entender que o que envolve o fenômeno Bitcoin vai além dos mercados de câmbio. “O Bitcoin é o produto mais visível de uma tecnologia disruptiva, o blockchain”, diz Fernando Pavani, fundador e CEO da plataforma de transações financeiras digitais Bee Tech.

Fernando Pavani, CEO da Bee Tech: “O Bitcoin é o produto mais visível de uma tecnologia disruptiva, o blockchain” (Crédito:Divulgação)

Complicou? Explicamos. Blockchain é um protocolo de comunicação. Como se fosse uma língua universal, um esperanto, mas usado apenas por computadores. Por meio do blockchain, é possível rastrear facilmente a origem e os intermediários que usaram cada informação das centenas de bilhões criadas diariamente. O Bitcoin nada mais é do que esse princípio aplicado ao comércio: um meio de troca digital plenamente rastreável e totalmente descentralizado (tire suas dúvidas com as perguntas abaixo).

O Bitcoin – e outras moedas virtuais, menos conhecidas, como Ethereon e Bitcash – permitem transações financeiras instantâneas e, até agora, imunes a fraudes. Como cada moeda pode ser rastreada desde sua criação, e com todas as transações posteriores, é impossível existir um Bitcoin falso. No limite, isso permite transações virtuais praticamente sem custo. É possível, por exemplo, que um africano que trabalhe em uma cidade europeia pague as compras da família na aldeia natal, por uma fração do custo da remessa tradicional de dinheiro.

Ou que empresas de todos os tamanhos acessem o mercado global sem precisar de todos os trâmites para exportar. Embora os benefícios sejam menos evidentes quando se pensa em commodities e produtos industriais, as vantagens saltam aos olhos no caso de produção intelectual, como entretenimento e desenvolvimento de APPs. Quem investe nessas moedas está apostando em uma generalização do seu uso, e em sua consequente valorização.

Caixa automático que negocia Bitcoins, no Japão: Rússia, e outros países, deverão regulamentar o uso da moeda em breve (Crédito:Divulgação)

Vale a pena investir nisso? Segundo Pavani, a estratégia de investimentos segue a lógica da diversificação. “O investidor com bastante dinheiro deveria destinar um pequeno percentual de seus recursos ao Bitcoin, assim como destinaria uma fatia ao ouro”, diz ele. O especialista em finanças Rodrigo Miranda avalia que a regularização do Bitcoin, que já é aceito no Japão e deverá ser regularizado em breve na Rússia, dará mais segurança ao processo.

Sempre é bom lembrar, porém, que há um risco inerente ao Bitcoin. Ele é uma tecnologia nova, e tecnologias novas correm o grande risco de serem suplantadas por outras, mais baratas ou eficientes. Além disso, o Bitcoin é, ainda, largamente uma aposta. Ou seja, um investimento que pode ser excepcional, mas que embute riscos elevados.


Dez perguntas sobre o Bitcoin

As dúvidas mais frequentes de quem pensa em investir na moeda virtual

O que é o Bitcoin?
Bitcoin é uma moeda virtual que não é emitida por nenhum governo nem possui um órgão regulador.

É possível fazer compras com o Bitcoin?
Sim. Algumas empresas e sites já aceitam pagamentos em Bitcoin, como a empresa de computadores Dell, a Tesla, a plataforma de blogs WordPress e o site de música Soundcloud. Também é possível realizar transferências na internet, adquirir games e fazer doações para instituições como Wikipedia e Greenpeace.

Por que comprar Bitcoins??
O principal motivo alegado por quem compra Bitcoins é investir. A ideia é comprar a moeda esperando que ela se valorize no futuro, pelo aumento da utilização.

Como funciona a valorização do Bitcoin?
A valorização da moeda funciona de acordo com a demanda de empresas, que estão aderindo a essa forma de pagamento. O preço é determinado pela lei da oferta e demanda, sendo bastante volátil ainda.

Até quando o Bitcoin vai se valorizar?
Por ser uma moeda limitada, os preços vêm subindo. Nos últimos anos a valorização tem sido relativamente constante, mas é impossível prever qualquer comportamento no futuro.

Como investir no Bitcoin?
Primeiro, é preciso se cadastrar nos mercados on-line internacionais. Os mais conhecidos são: Coinbase, Circle, Kraken, Bitstamp, DriveWealth e SpectroCoin.

Quais os documentos necessários?
A maioria desses mercados exige um documento de identificação, como um passaporte, e comprovante de residência. Alguns exigem os documentos com tradução certificada para o inglês. Também é necessário anexar um documento bancário confirmando a existência dos recursos, como uma carta do banco ou um extrato da conta corrente.

Como enviar o dinheiro para a conta corrente no exterior?
Use plataformas de transferências internacionais, ou plataformas online. Você deve informar o valor que deseja enviar. O cálculo será feito com as taxas e impostos inclusos. Você deve cadastrar os dados bancários do beneficiário, para confirmar a transação. Sua transferência chegará à conta do beneficiário em até dois dias úteis.

Os investimentos em Bitcoin têm de ser declarados à Receita Federal?
Sim. As contas-correntes no exterior devem ser informadas na declaração
de Imposto de Renda. Deve ser declarado o saldo em conta corrente relacionado
em reais.

Como devo declarar o Bitcoin?
Você deve acessar o programa do Imposto de Renda. Na seção “Fichas da declaração” selecione a opção “Bens e direitos”, insira o código “99 – Outros bens e direitos”. Na área “Discriminação” você deve colocar a quantidade de moedas que você possui. Sempre declare o valor de aquisição. Informe o país onde sua conta está localizada e o valor do saldo em moeda estrangeira, juntamente com os dados do banco, agência e número da conta.

Fonte: Bee Tech