Por Isabel Versiani

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central promoveu a terceira alta consecutiva de 0,75 ponto percentual da taxa básica de juros nesta quarta-feira, levando a Selic a 4,25%, e anunciou a intenção de dar sequência ao aperto monetário com uma nova alta de pelo menos a mesma magnitude em sua próxima reunião, em agosto.

Em comunicado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC também abandonou o uso da expressão “normalização parcial” para se referir ao atual ciclo de alta de juros, explicitando que pretende fazer um aperto maior do que vinha sendo sinalizado até então, levando a Selic para patamar considerado neutro.

“Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada a normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro. Esse ajuste é necessário para mitigar a disseminação dos atuais choques temporários sobre a inflação”, disse o colegiado em nota.

“O Comitê enfatiza, novamente, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação.”

A alta da Selic veio em linha com a expectativa consensual de economistas consultados em pesquisa da Reuters e ocorre em meio a uma inflação corrente persistente que tem contaminado as expectativas dos analistas para 2022. A pesquisa mostrou que os economistas também esperavam uma indicação de que o aperto monetário seria maior à frente.

Desde março, quando deu início ao atual ciclo de alta dos juros, o BC vinha afirmando que estava promovendo um processo de normalização parcial do estímulo monetário. O termo indicava a intenção de aumentar a Selic, mas sem eliminar o estímulo à economia, mantendo o juro básico abaixo do patamar considerado neutro –em torno de 6,5%, segundo cenário citado recentemente pelo próprio BC. Essa comunicação foi agora alterada.

O BC disse, ainda, que antevê outro ajuste de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, frisando que “uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários”.

INFLAÇÃO EM ALTA

Em seu comunicado, o BC expressou preocupação crescente com a inflação, ao mesmo tempo em que destacou que os riscos à recuperação econômica doméstica reduziram-se “significativamente”.

“A persistência da pressão inflacionária revela-se maior que o esperado, sobretudo entre os bens industriais”, disse o BC.

“Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real.”

O Copom ressaltou que segue atento à evolução desses choques e sua potencial disseminação, assim como ao comportamento dos preços de serviços em meio ao avanço da vacinação no país.

Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve a maior alta para o mês em 25 anos, sob pressão dos preços da energia elétrica, e acumulou um salto de 8,06% em 12 meses.

A projeção de inflação do cenário básico do BC, que leva em conta a trajetória para a Selic estimada pelo mercado e uma taxa de câmbio que evolui mantendo a paridade do poder de compra, aponta para um IPCA em torno de 5,8% em 2021 (ante projeção de 5,1% na reunião de maio) e de 3,5% em 2022 (3,4% antes).

A projeção do BC para este ano está acima do teto da meta de inflação para este ano (5,25%) e vem em linha com o esperado pelo mercado (5,82%, segundo a pesquisa Focus). Já a projeção para 2022 está agora exatamente em cima da meta central para o próximo ano e é um pouco menor do que expectativa do mercado para o período (3,78%).

O BC destaca, no entanto, que seu balanço de riscos sugere que esses patamares de inflação podem potencialmente ser superados por causa do risco fiscal elevado do país, que é maior do que o risco “benigno” para a inflação de uma reversão dos aumentos recentes nos preços das commodities em reais.

A decisão do Copom desta quarta-feira foi tomada de forma unânime pelo presidente Roberto Campos Neto e sete diretores, um a menos que o normal. Fernanda Nechio deixou a diretoria de Assuntos Internacionais do BC em maio e a economista indicada para assumir o cargo, Fernanda Guardado, ainda não passou por sabatina no Senado, passo necessário para sua efetivação.

O Copom volta a se reunir em 3 e 4 de agosto.

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