O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, avaliou nesta sexta-feira, 24, que o déficit em transações correntes de US$ 935 milhões em fevereiro foi o menor saldo negativo para o mês deste 2009, quando o déficit foi de US$ 647 milhões. “O saldo negativo ficou um pouco abaixo do US$ 1,3 bilhão previsto para este mês. A balança comercial veio acima do previsto, então o déficit foi menor”, explicou. “A melhora na conta de transações correntes vem pela balança comercial, cujo saldo subiu 50% em um ano. Esse aumento das exportações tem a ver muito com preço dos produtos brasileiros”, completou.

Considerando os dois primeiros meses do ano, o déficit de US$ 6,020 bilhões também é o menor para período desde 2009, quando o saldo negativo no primeiro bimestre foi de US$ 4,1 bilhões. “O ajuste das transações que vem desde 2015 e 2016 correntes permanece com resultados baixos na comparação com a série histórica”, afirmou. A projeção do BC para déficit em março é de US$ 1,5 bilhão.

Rocha destacou ainda que a entrada de US$ 16,845 bilhões em Investimentos Diretos no País (IDP) no primeiro bimestre de 2017 foi o melhor resultado da série histórica para o período. Até o dia 22 março, a entrada de IDP foi de R$ 4,8 bilhões, e a estimativa do BC para este mês é de US$ 6,3 bilhões nesses investimentos.

Ele disse também que o déficit na conta de viagens de US$ 824 milhões em fevereiro e de US$ 1,743 bilhão no primeiro bimestre apresentou o maior resultado – para os dois períodos – desde 2015. “A conta vinha crescendo até 2015 e teve uma redução significativa em 2016, quando o câmbio superou os R$ 4,00. Agora estamos voltando para um nível mais alto de déficit de viagens”, lembrou. “Projetamos um crescimento para este ano, mas ainda longe do maiores déficit nessa rubrica”, completou.

Rocha adiantou que, até o dia 22, o déficit na conta de viagens de março estava em US$ 789 milhões, com receitas de US$ 449 milhões e despesas de US$ 1,238 bilhão.

Também adiantou que os pagamentos de juros externos em março, até o dia 22, somaram US$ 729 milhões. No mesmo período, as remessas de lucros e dividendos chegaram em US$ 1,447 bilhão.

Ele avaliou a estabilidade nas contas de juros e lucros e dividendos no primeiro bimestre de 2017. Em juros, a saída nos dois primeiros meses do ano ficou em US$ 5,130 bilhões, ante US$ 4,726 no mesmo período de 2016. Em lucros e dividendos, o resultado neste ano foi de US$ 3,325 bilhões ante US$ 2,779 bilhões na mesma comparação.

Concentração de IDP

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central avaliou que a autoridade monetária considerou adequado manter em US$ 75 bilhões a estimativa de entrada de IDP em 2017, apesar do recorde de US$ 16,834 bilhões no primeiro bimestre. “Por enquanto, nos parece que esse US$ 75 bilhões ainda é o melhor número. No primeiro bimestre, houve concentração em operações acima de US$ 1 bilhão. Se o resultado continuar crescente no próximo bimestre, poderemos rever essa projeção no meio do ano”, afirmou.

Ele detalhou que 38,9% do IDP no primeiro bimestre do ano se concentrou em operações superiores a US$ 1 bilhão. No período, a entrada de IDP foi recorde em US$ 16,834 bilhões.

Ainda assim, o BC manteve a expectativa de entrada de IDP em 2017 em US$ 75 bilhões. “Temos uma concentração grande em operações de alto valor e é mais razoável esperar para ver se isso prossegue à frente. É melhor não ficar tão baseado em operações individuais para projeção para o ano”, reafirmou Rocha.

Data de corte

O representante do Banco Central disse que as novas projeções da autoridade monetária para as contas externas brasileiras em 2017 foram feitas antes da deflagração da Operação Carne Fraca, no dia 17 deste mês.

“As projeções feitas aqui são macroeconômicas, ou seja, para a totalidade das transações correntes do País. A estimativa para as exportações em 2017 é de US$ 200 bilhões, sendo que os embarques de carne ficaram abaixo de US$ 12 bilhões em 2016. Trata-se de um setor relevante, mas a pauta brasileira de vendas ao exterior é variada. Então essas operações não impactam qualitativamente a projeções feitas pelo Banco Central”, argumentou.

Para Rocha, as consequências da Operação Carne Fraca ainda são incertas, lembrando que dois países que chegaram a anunciar a suspensão da compra de carne brasileira voltaram atrás nessa decisão. “E essas consequências atuarão em um universo de US$ 12 bilhões”, reforçou. “O déficit em transações correntes permanecerá baixo e a entrada de Investimentos Diretos no País (IDP) continuará suficiente para compensar esse saldo”, completou.

Serviços

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central disse que a projeção de déficit nas transações correntes aumentou de US$ 28 bilhões para US$ 30 bilhões a despeito da melhora da perspectiva para a balança comercial, já que houve aumento no déficit previsto tanto na conta de serviços como na conta de rendas.

Na conta de serviço, por exemplo, a apreciação significativa no câmbio explica previsão de aumento do déficit em viagens que passou de US$ 10,5 bilhões para US$ 12,5 bilhões. Da mesma forma, a melhora nos fluxos de comércio exterior levou a uma estimativa maior de gastos com transportes. “E alta da projeção para aluguel de equipamentos tem influência do aumento das exportações de petróleo”, acrescentou.

Na conta de rendas, Rocha destacou as remessas de lucro e dividendos, que caíram durante a recessão de 2015 e 2016, mas devem aumentar puxado pelo crescimento constante do estoque de IDP e pelo câmbio apreciado. A projeção do BC passou de US$ 23,5 bilhões para US$ 26,5 bilhões “Essas remessas ocorrem com base em um estoque maior de investimentos realizados no Brasil e em decorrência de um câmbio mais valorizado”, explicou.

Já na conta financeira, Rocha destacou a revisão da estimativa de saída em renda fixa de US$ 10 bilhões para US$ 7 bilhões. “Temos uma perspectiva ainda de saída líquida de investidores de renda fixa do País em 2017, mas com menor magnitude. Essa rubrica deve inclusive ficar estável ou positiva no primeiro trimestre, o que tem relação com a melhora do risco País e com o câmbio mais estável. Para o ano, porém, a estimativa continua de saída”, detalhou.

Rocha afirmou ainda que a projeção implícita para a taxa de rolagem para o ano é de 80%.