No fim da década passada, os telespectadores do SBT eram bombardeados a cada 15 minutos por publicidade vendendo os empréstimos camaradas do Banco PanAmericano, pertencente a Silvio Santos. Em dezembro de 2009, quando a situação do banco se complicou, seus controladores também procuraram um dinheirinho a preços camaradas com os amigos. Quem se prontificou foi a Caixa Econômica Federal. Uma Medida Provisória (MP) assinada meses antes pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva permitia aos bancos estatais comprar participações em outras instituições financeiras. Com base na MP, a Caixa comprou 35% do PanAmericano por R$ 739 milhões. Pagou 70% na assinatura do contrato, antes do aval do Banco Central (BC).

Na época, muita gente no mercado financeiro achou o negócio suspeito. Essa impressão ficou mais forte quando, dez meses depois, o PanAmericano anunciaria um rombo que chegou a R$ 3,8 bilhões. A estranheza aumentou ainda mais quando, segundo executivos que acompanharam o processo, Guido Mantega, então ministro da Fazenda, pressionou o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) a socorrer o banco, que seria depois vendido ao BTG Pactual e renomeado Banco Pan.

Na quarta-feira 19, uma investigação do Ministério Público Federal de Brasília confirmou que a estranheza era justificada: 35 executivos bancários e diretores do BC receberam a visita de policiais federais, na chamada Operação Conclave.

O nome veio da escolha dos papas, realizada em segredo por cardeais reunidos a portas fechadas. Cercada de sigilo e decidida pelo alto clero econômico em 2009 a salvação do PanAmericano agora ameaça levar banqueiros, auditores e a própria direção do BC ao purgatório dos investigados. Entre os citados estão Anthero Meirelles, que comandava a área de Normas do BC na época, Maria Fernanda Ramos Coelho, ex-presidente da Caixa, Antonio Carlos Bueno, ex-presidente do FGC, o banqueiro André Esteves, do BTG, e Henrique Abravanel, irmão de Sílvio Santos. Também foram intimados advogados, consultores e diretores do Banco Fator e das empresas de auditoria Deloitte, KPMG e BDO.

Não vai para o trono: contas do banco Panamericano, então pertencente ao empresário Sílvio Santos, escondiam um rombo de R$ 3,8 bilhões
Não vai para o trono: contas do banco Panamericano, então pertencente ao empresário Sílvio Santos, escondiam um rombo de R$ 3,8 bilhões (Crédito:Eliaria Andrade / Agencia o Globo)

Segundo o inquérito, eles chancelaram as contas da Caixa, e justificaram o pagamento feito a um banco quebrado e que, segundo mais de uma fonte ouvida pela DINHEIRO, tinha sido analisado por diversos interessados – que olharam os números e perderam o interesse. Além da tradicional liturgia de intimações matutinas e justificativas vespertinas, a operação Conclave vai provocar choro e ranger de dentes no sistema financeiro, segmento que, até agora, mostrou-se relativamente imaculado. No fim da década passada, os bancos públicos resolveram crescer aceleradamente no mercado para poderem ser instrumentos mais eficazes na aplicação das políticas estatais de estímulo à economia.

Algumas operações, como a do PanAmericano, foram contestadas, e agora cabe investigação. Os prejuízos já se fazem sentir: na quarta-feira 19, as ações do Banco Pan caíram 4,04% e as units do BTG Pactual recuaram 5,7%. O processo também deverá colocar em destaque a atuação do BC, que até agora parecia estar blindado da fúria investigativa do Ministério Público e da Justiça Federal. Procurada, a Caixa informou que está em contato e colaborando com as autoridades. O FCG afirma que “concluiu, em 2010, operação de suporte ao então Grupo Silvio Santos e que segue à disposição das autoridades para esclarecimentos”.

O BTG, também por meio de comunicado, esclarece que não participou das negociações entre Caixa e PanAmericano e que, em 2011, comprou uma participação no Pan diretamente do Grupo Silvio Santos. O BC, em nota, afirmou a regularidade de seus procedimentos na análise do processo de aquisição pela Caixa, esclareceu que o aval concedido para a compra da Caixa, em julho de 2010, foi definitivo, e que, entre dezembro de 2009 e 15 de julho de 2010, não havia qualquer indício de fraude na contabilidade do PanAmericano, nem sinal das graves irregularidades identificadas pelo próprio BC.

DIN1015-operacao3