Passado o vendaval no Congresso, que parou tudo para julgar a denúncia contra Temer, os brasileiros, que encararam com perplexidade o espetáculo e com razoável resignação o resultado, esperam agora que os senhores parlamentares passem a olhar para o que realmente interessa no sentido de recolocar o País nos trilhos. Não é segredo para ninguém que sem reformas já – previdenciária e tributária – o Brasil entra em um caminho perigoso. Para não dizer inviável. Devido à demora em votações do tipo e à protelação de medidas que já deveriam estar em prática o Governo terá que, obrigatoriamente, rever a meta fiscal para 2017.

Algo impensável até tempos atrás. A equipe de Meirelles já colocou em perspectiva um rombo da ordem de R$ 159 bilhões. Ou seja: R$ 20 bilhões acima do que foi originalmente estipulado. O ministro trabalha com a ideia de ficar no meio termo. Quer bater o martelo em R$ 149 bilhões. Na diferença entre os números reside o custo da irresponsabilidade praticada pelos parlamentares com o adiamento da pauta. Ninguém pode simplesmente fechar os olhos aos problemas imaginando que eles vão sumir da frente ou diminuir de tamanho. É necessária ação, algo que anda em falta tanto no Senado como na Câmara. O buraco nas contas públicas protela a recuperação econômica, que segue em ritmo baixo – muito embora tenha resistido a tantas ofensas.

Mesmo a predisposição de parlamentares para a liberação de gastos, através dos pedidos de mais e mais emendas, precisa ser diligentemente vigiada. Do contrário corre-se o risco de repetição da malfadada gestão dos tempos de Dilma. No setor privado a mera sinalização de que as coisas tendem a se acomodar no ambiente político mudou os ânimos. A bolsa voltou aos níveis de bonança da fase anterior à denúncia do empresário Joesley Batista, da JBS. O câmbio tem trazido o real gradativamente valorizado. No plano das exportações, a balança comercial voltou a bater recorde no ano, atingindo o maior patamar desde 1989. É o melhor dos mundos e isso vem ajudando vários setores a se recuperarem.

A indústria, por exemplo, finalmente experimentou indicadores positivos. Cresceu 0,5% no semestre. Embora possa parecer pouco, tem enorme significado para uma atividade que chegou ao inferno e viveu de quedas consecutivas nos índices por longo período. A comercialização de veículos exibiu pujantes 1,9% de crescimento no mês de julho. Está tudo seguindo na direção correta, mas a mudança de meta fiscal foi um perigoso aviso de que as coisas podem desandar. O rombo adicional havia sido precificado pelo mercado, dadas as turbulências passadas, e não afetou a credibilidade na retomada. O que não se pode pensar é que a melhoria avança por inércia, sem o trabalho vital do Congresso nas votações.

(Nota publicada na Edição 1030 da Revista Dinheiro)