As marcas da ancestralidade africana – no cabelo, na pele, nas cores e desenhos das roupas, no batuque dos tambores e na história de vida – fizeram parte da Marcha de Mulheres Negras e Indígenas que ocorreu hoje (25) na capital paulista. O ato, que teve início na Praça Roosevelt, na região central, lembra o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, celebrado nesta terça-feira. Entre as pautas da mobilização, apresentadas em manifesto, está a luta contra o racismo, o feminicídio, o machismo, o ódio à população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e contra a retirada de direitos.

“O racismo, por ser estruturante, nos coloca em uma condição de estar sempre correndo atrás de fazer as coisas acontecerem”, disse a metroviária Rosa Anacleto, que faz parte da União de Negros pela Igualdade (Unegro), que compõe a Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. Ela destaca a questão da violência contra a população negra. O Atlas da Violência de 2017, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que as mortes de mulheres negras aumentaram 22% entre 2005 e 2015. “Parece que a vida da mulher negra não importa”, diz.

O ato também faz uma homenagem a Tereza de Benguela, líder do Quilombo Quariterê, que viveu no século 18 na região do atual estado de Mato Grosso. De acordo com documentos da época, o Quilombo Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, sendo 79 delas negras e 30 indígenas.

Trajetórias

A identidade negra que hoje é motivo de orgulho para as mulheres que participam da marcha também faz parte da trajetória delas por causa do preconceito. A educadora Graciele Batista, 25 anos, diz que a questão racial sempre esteve presente na vida dela. “Eu não entendia o por quê. Eu era preterida em vários momentos e só depois é que tive o poder de me entender e me reconhecer nesse espaço [de organização]”, disse a jovem que cursou educação física por meio de cotas do Programa Universidade para Todos (Prouni).

Rosa Anacleto diz que a organização de mulheres negras é importante, pois, por se encontrarem em situação de maior vulnerabilidade social, é sobre elas que as políticas públicas para construção de igualdade devem se voltar. “Costumamos dizer que, na medida que uma mulher avança, ninguém fica para trás. Não é privilégio, a gente quer ter condição de disputar, mas estamos em desvantagem”, disse. Entre as conquistas recentes, são lembradas a políticas de cotas, a Lei Maria da Penha e a lei do trabalho doméstico.

Mulheres indígenas

Como representação das indígenas, a Guarani Ara Mirim Sônia Barbosa, que é moradora da aldeia do Pico do Jaraguá em São Paulo, participou do ato. “Queremos apoiar porque é uma luta só e, da mesma forma que a população negra sofre, nós também”, disse. Ela destacou a necessidade de preservar os saberes e modo de vida as populações tradicionais. “Nhaereko é o nosso modo de vida. É esse modo de vida que nos mantém vivo, a cultura, a língua, as tradições. Nós temos o nosso trabalho dentro da comunidade. Isso é o nosso bem viver”.

A colombiana Dani Ramires, 29 anos, está no Brasil para fazer um trabalho sobre o combate ao racismo. Ela disse que em Bogotá também ocorrem atos para celebrar a data. “Não se mobiliza tanto como aqui, mas estamos aprendendo e quando voltar vou compartilhar essa experiência”. Dani destaca semelhanças entre as reivindicações. “A discriminação racial é um problema que nos afeta e temos também um grave problema que são os conflitos armados, que afetam principalmente as mulheres negras e indígenas nas periferias do país”.

O ato seguiu em marcha pelas ruas do centro até o Largo Paissandu, onde fica a estátua em homenagem à Mãe Preta. Intervenções culturais foram feitas ao longo do percurso.