Aos 36 anos, o alemão Benjamin Quaiser é considerado uma dos maiores revelações da nova safra de economistas da Alemanha, terra de Karl Marx e Friedrich Engels. Atualmente, ele é diretor do departamento de educação executiva da European School of Management and Technology (ESMT), de Berlim, e viaja o mundo para debater os rumos na economia. Doutor em economia pela Universidade Ruhr e mestre pela European University Viadrina, de Frankfurt, ele esteve no Brasil na semana passada para um encontro acadêmico na Saint Paul Escola de Negócios, em São Paulo. Quaiser falou à DINHEIRO:

A política nacionalista de Donald Trump irá ajudar a economia americana?
No caso da Alemanha, especificamente, os EUA perderão o posto de maior parceiro comercial. No entanto, o país desenvolveu uma rede comercial internacional robusta e deverá mudar o foco para estes parceiros. Sobre a economia americana, ainda é difícil traçar um panorama.

Qual a sua avaliação sobre a reação das empresas americanas às políticas protecionistas e, para muitos, preconceituosas de Trump?
Com essa política de Trump, as empresas americanas sofrerão para manter a atratividade de talentos e, futuramente, isso vai impactar a competividade dos produtos e serviços dos Estados Unidos.

O provável fim do Nafta, o fracasso do Mercosul e as dificuldades da União Europeia mostram que novos blocos de livre comércio estão ameaçados?
Sim, com certeza. Os impactos serão negativos, obviamente, e as soluções adequadas para reagir aos impactos destas mudanças são complexas e levarão um tempo significativo para que opções sejam consideradas.

Como a Alemanha defenderá a união em uma Europa dividida?
A União Europeia é uma grande história de sucesso, não apenas sobre o viés econômico, mas também em termos de paz e cooperação. Por isso, a Alemanha precisa defender essa ideia e buscar com todas as forças superar as tendências nacionalistas. O fim do mercado único prejudicaria as empresas.

O Brasil está no caminho certo para superar a recessão?
O Brasil continua sendo o país mais importante da América do Sul e seu futuro parece promissor, mas a situação atual da política e da economia é complicada e as perspectivas não são otimistas em curto prazo.

Por quê?
Baseado nos dados econômicos, o Brasil entrou em uma real e severa crise. Infelizmente, 2017 será um ano de estagnação econômica.

Como o Brasil, no campo do comércio exterior, deve agir em um contexto de maior protecionismo global?
Como todo país orientado às exportações, o Brasil precisa fazer acordos comerciais com mercados mais prósperos. As mudanças das políticas comerciais dos EUA aumentam a pressão para que o Brasil desenvolva novos acordos comerciais, como com a China e a União Europeia. O Brasil precisa entrar em novos mercados.

O sr. defende o Estado mínimo?
O governo alemão atua, principalmente, como um facilitador da liberdade econômica, crescimento e igualdade para todos terem as mesmas oportunidades dentro da sociedade. Para a Alemanha, essa era uma base sólida de sucesso econômico. Mas não estou em posição de avaliar as necessidades dos brasileiros. Acredito que o Brasil vai encontrar seu próprio caminho para a prosperidade e o Estado só pode ajudar em certa medida.

Como os profissionais devem se comportar em momentos de recessão?
Como sempre, as empresas precisam compreender as necessidades dos clientes e as áreas de mercado de altas demandas. Claro que a situação é muito difícil para a maioria dos indivíduos, mas também, em tempos de recessão, algumas empresas são mais bem sucedidas do que outras. O foco na preparação individual é constante e o profissional precisa estar apto para as oportunidades futuras.

Qual conselho o sr. daria para os brasileiros que estão começando a carreira em meio a esta grave crise no mercado de trabalho?
Eu viajo muito ao redor do mundo e, em quase todos os países, encontro pessoas com um nível educacional alto, trabalhando no exterior, ou em grandes empresas, que possuem a mente aberta para se beneficiar de outras culturas e ideias. Minha dica é que o profissional tente se tornar um membro desta elite, e o resultado é que o leque de opções se amplia consideravelmente. A educação é fundamental.