Em meio às investigações de corrupção em curso no País, desencadeadas com a Operação Lava Jato – que colocou no olho do furacão grandes grupos brasileiros –, gestoras de investimentos nacionais e estrangeiras estão mais cautelosas para fechar negócios. Mesmo com ativos mais baratos, até investidores mais dispostos a riscos estão recorrendo a salvaguardas jurídicas antes de fechar uma transação.

Ex-executivo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o sócio-gestor da Jardim Botânico Investimentos tem R$ 300 milhões sob gestão. Osorio também foge de empresas que são minimamente reguladas pelo governo, mesmo correndo o risco de sobrar poucas opções no cardápio para investir. “Nunca fizemos investimentos, por exemplo, em empresas do Grupo X, de Eike Batista.”

O cenário atual, com novas delações, mais do que reforça a cautela das gestoras, diz Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities, que tem R$ 500 milhões sob gestão e também é atuante em conselhos de empresas nas quais costuma investir. “Ter conselheiros independentes é um bom sinalizador para o mercado”, diz Rudge.

‘Efeito Lava Jato’. Com a deflagração da Lava Jato, muitas empresas que foram alvo da operação tiveram de colocar boa parte de seus negócios à venda para ganhar maior liquidez. Mesmo diante de um leque maior de ativos de empresas investigadas à disposição e da crise econômica, que deixaram as empresas mais baratas, muitos gestores só estão fechando negócios com respaldo jurídico. Foi o caso da canadense Brookfield, que condicionou a compra de 70% da Odebrecht Ambiental ao acordo de leniência da companhia, apurou o Estado com fontes a par do assunto. A Brookfield não comenta.

A gestora canadense não é a única que busca retaguarda jurídica para concluir transações. Após as delações dos donos da JBS, controlada pela holding J&F, importantes companhias do grupo foram colocadas à venda. A Alpargatas, por exemplo, fabricante das sandálias Havaianas, já é alvo de cobiça. Fundos de investimento, como Tarpon e Carlyle, já chegaram a olhar o negócio que pertencia ao grupo Camargo Corrêa, apurou o Estado. Tarpon e Carlyle não comentam.

Antes de fazer uma oferta pela Alpargatas, os fundos deverão trabalhar lado a lado com seus advogados. Pessoas familiarizadas com as duas gestoras, que preferiram não se identificar, dizem que esse ativo é interessante, mas que querem entender se ele poderá ser “contaminado” mesmo com o acordo de leniência assinado no Brasil ou se aguardam a assinatura de um acordo nos Estados Unidos.

Procurada, J&F não fez comentários sobre Alpargatas, confirmando apenas a contratação de bancos para a venda da Vigor e negociações sobre a Eldorado.

Para o advogado e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Luís André de Moura Azevedo, na falta de uma proteção contratual adequada, os fundos que têm mais pressa e não conseguem aguardar um acordo leniência podem correr riscos mais para frente. O ideal seria esperar pelo acordo.

Um importante gestor de grande fundo americano com atuação no País diz que um acordo ratificado pelo Departamento de Justiça dos EUA, o DOJ, dá mais segurança na compra de um ativo da Lava Jato, por ser público. Mas, na dúvida, afirma esse gestor, está em busca de negócios de menor risco no Brasil.