Após a divulgação do primeiro prejuízo líquido anual da história da BRF, o presidente do conselho de administração, o empresário Abilio Diniz, afirmou que constituiu um comitê para reformular o modelo de gestão da companhia. “Essa será a conversa mais importante dos últimos quatro anos sobre BRF”, disse o executivo ao abrir a teleconferência. Antes de comentar sobre as novas estratégias da alimentícia, porém, Diniz quis esclarecer especulações que transitaram no mercado sobre uma possível saída da Península, gestora de investimentos do empresário, da BRF. “Quero deixar muito claro que a Península fica firmemente com a BRF”, afirmou.

Sobre a estratégia de recuperação da companhia, Diniz afirmou que este grupo, já aprovado pelo conselho da companhia, contará com os empresários Walter Fontana Filho, Eduardo D`Ávila e Zeca Magalhães e que deverá corrigir os erros cometidos na empresa, com um prazo de 90 dias de trabalho. “Esse time vai se reunir uma vez por semana. Pretendemos atuar corrigido os erros que cometemos. Essa companhia é incrível, mas está faltando ajustes”, disse o empresário citando também a “conjuntura extremamente adversa em 2016”.

Entre os problemas Abilio citou a falta de informações em tempo real disponível para os gestores. “Precisamos ter agilidade e rapidez, informações precisas no tempo em que elas estão acontecendo”, disse. Apontou uma definição melhor na ligação entre o início da cadeia produtiva e o consumidor final que poderá ser trabalhada com marketing estratégico. “Não vamos garantir resultado de curto prazo, mas não vamos mais fazer o mesmo”, completou.

A empresa deve trabalhar na reversão da rentabilidade, retomada de crescimento com foco no Brasil e em um modelo de gestão mais integrado, segundo o CEO da BRF, Pedro Faria. “Enxergamos oportunidades em um modelo de gestão bem diferenciado”, afirmou Faria. Sobre a estratégia de marketing, Faria citou um reforço nos produtos mais básicos e também que o fim das restrições para categorias impostas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que acontece em julho deste ano, deve potencializar o leque da BRF.

Em 2016, a empresa foi pressionada negativamente pelo aumento dos custos dos grãos no Brasil – o milho que é o usado como ração na avicultura, atingiu patamares recordes – e também pela queda do preço médio da carne de frango no mercado internacional e uma valorização do real ante o dólar. A forte queda do consumo doméstico de proteínas e o acirramento da concorrência local também afetaram os resultados da companhia. “Estivemos menos preparados para agir sobre o impacto que os grãos causaram na nossa cadeia”, disse Faria.

A companhia também trabalhou com estoques elevados e foi obrigada a trabalhar com a liquidação destes produtos. “Elevamos nossos preços em dezembro. Fomos para um parâmetro diferente dos nossos concorrentes, esse efeito ficou potencializado no quarto trimestre”, disse Faria. A BRF teve uma queda 0,6 pontos porcentuais de market share no trimestre, segundo a Nielsen.

“A competição vinda de marcas regionais, cujo posicionamento fica entre 60% e 80% do índice de preço, impactou principalmente as categorias de embutidos e pratos prontos”, afirmou a empresa. No total de janeiro a dezembro do ano passado, o prejuízo líquido da BRF atingiu R$ 372 milhões, contra lucro líquido de R$ 2,928 bilhões em 2015.

O Ebitda ficou em R$ 3,413 bilhões no ano, cifra 38,2% menor que a de 2015, de R$ 5,525 bilhões em 2015. Neste período, a margem Ebitda recuou de 17,8% para 10,1%. No último trimestre do ano, a BRF registrou prejuízo líquido de R$ 460 milhões no quarto trimestre de 2016, revertendo o lucro de R$ 1,415 bilhão registrado no mesmo período de 2015.