O Natal de 2015 teve um gosto amargo para a multinacional americana Coca-Cola no Brasil. À época, a campanha publicitária “Uma Ponte para Noel”, que a empresa produziu para as comemorações de fim de ano, foi parar na Justiça após ter sido denunciada pelo Instituto Alana. Criada no início da década de 1990 pelos irmãos Ana Lúcia Villela e Alfredo Villela, herdeiros da holding Itaúsa, que controla o Itaú e a Duratex, a Organização Não Governamental (ONG) batizada pela junção do nome dos irmãos nasceu para lutar pelos direitos das crianças. Ana Lúcia, formada em pedagogia, é quem lidera o instituto. Ela ganhou força e notoriedade ao enfrentar grandes multinacionais por meio do projeto Criança e Consumo. Com o programa, Ana Lúcia combateu ativamente ações de marketing que fossem voltadas ao público infantil e que estimulassem comportamentos consumistas, eróticos e reforçassem a cultura da obesidade, desrespeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

2010: a entrevista exclusiva com Alfredo Villela Jr., irmão de Ana Lúcia, foi um dos grandes furos de reportagem da DINHEIRO

O caso da Coca-Cola foi emblemático. Após a decisão judicial favorável ao pleito do Alana, em 2016, a multinacional comprometeu-se a não produzir mais campanhas voltadas ao público infantil, apenas aos jovens adultos. “A Ana Lúcia conseguiu dar esse nível de autonomia à instituição”, diz Priscila Pasqualin, do PLKC Advogados “O Alana incomoda as empresas a tal ponto que a Coca-Cola foi até eles para compreender como se posicionar no mercado de uma forma mais assertiva.” Outras marcas como Sadia e Bauducco também foram autuadas e condenadas pelo Supremo Tribunal Judicial por terem sido denunciadas.

A herdeira do Itaú é avessa aos holofotes e prefere ficar distante da ostentação. Ela quer ser reconhecida pela sua batalha pelo direito das crianças. Órfã aos oito anos de idade, quando seus pais faleceram após o avião particular que eles estavam ter se colidido com o pico do Frade, no Rio de Janeiro, Ana Lúcia e Alfredo passaram a ser orientados por tios-tutores. A soma da criação com a formação acadêmica foram fundamentais para o desenvolvimento e a condução do Instituto Alana.

“Vejo o crescimento do pensamento socioambiental dentro das empresas e a eficácia do mundo empresarial contaminando o processo de gestão das organizações da sociedade civil”, disse Ana Lúcia, em entrevista concedida à Revista Trip em maio de 2016. Com 23 anos de atuação, a ONG está dividida em três frentes: o instituto; uma área de inovação e impacto sócio-econômico; e a fundação, que tem como base os Estados Unidos e apóia estudos e desenvolvimentos de novas terapias para pessoas com síndrome de Down. Esse projeto foi criado após a segunda filha de Ana Lúcia nascer com Down. “O Alana é essencial para sanar a ausência do Estado, pois ajuda a pensar em políticas públicas”, diz Maíra Liguori, co-fundadora do Think Eva.


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