Muitos amigos do dissidente chinês e Prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo, falecido na quinta-feira em razão de um câncer, estão preocupados com a viúva, Liu Xia, com a qual não conseguem estabelecer contato.

Em sua residência em Pequim, neste domingo à noite, um guarda uniformizado estava sentado em frente ao elevador, enquanto um civil, que não quis se identificar, afastou os jornalistas da AFP.

Os Estados Unidos e a União Europeia pediram ao governo chinês que deixem a poetisa Liu Xia viajar ao exterior.

No sábado, as cinzas de Liu Xiaobo foram jogadas ao mar, horas depois que seu corpo foi cremado.

“Estamos muito preocupados. Vimos as fotos tiradas pelas autoridades durante o funeral, e ela parecia fraca e debilitada. Ela parece a pessoa mais triste do mundo”, declarou à AFP Hu Jia, um ativista e amigo de Liu Xia. “Se pudesse vê-la, tentaria reconfortá-la”.

Detido há mais de oito anos por subversão, o opositor político Liu Xiaobo faleceu aos 61 anos, vítima de um câncer de fígado em estágio terminal. Foi posto em liberdade condicional no Hospital Universitário de Shenyang, onde estava recebendo cuidados.

Pequim se recusou a autorizar sua viagem para que fosse tratado fora do país.

Liu é o primeiro Nobel da Paz que morre estando preso desde um pacifista alemão detido pelos nazistas e morto em 1938. O Comitê Nobel acusou Pequim de ter “uma grande responsabilidade” por sua morte.

A ex-poetisa e fotógrafa foi autorizada a visitar seu marido no hospital antes de seu falecimento, mas seus contatos com o mundo exterior são muito restritos.

– ‘Tortura’ –

O apartamento de Liu Xia era o único guardado pela polícia neste domingo.

O homem em civil que afastou os jornalistas afirmou que o nome da viúva de Liu Xiaobo não estava na lista de habitantes do edifício, antes de dizer: “a moradora não quer vê-los”.

Nos últimos sete anos, Liu Xia foi autorizada a deixar seu apartamento apenas para visitar sua família e seu marido na prisão da província de Liaoning (nordeste).

Liu Xia perdeu seu pai no ano passado e sua mãe este ano.

“Não há maior prioridade do que libertar Liu Xia. O fato de as autoridades mostrarem as imagens da tortura à qual é submetida ilustra essa urgência”, declarou Sophie Richardson, diretora para a China da ONG Human Rights Watch.

No sábado, Zhang Qingyang, uma autoridade de Shenyang, afirmou que Liu Xia estava “livre”, sem revelar seu paradeiro.

Um outro amigo do casal, Ye Du, disse ter visto a família na sexta-feira de manhã, mas que Xia parecia nervosa e se recusava a falar dos detalhes para o funeral.

“Liu Xia está sendo claramente controlada”, afirmou Ye Du à AFP.

Patrick Poon, especialista da Anistia Internacional, indicou por sua vez que Liu Xia, de 56 anos, sofre de depressão e problemas cardíacos, e que a impossibilidade de seu amigos de entrarem em contato era “estranha”.