Todos os fatos e números que envolvem o empresário carioca Jorge Paulo Lemann, sob qualquer ponto de vista, parecem superlativos. Dono de uma fortuna estimada em quase US$ 30 bilhões, cerca de US$ 10 bilhões a mais do que a do banqueiro Joseph Safra, o segundo na lista dos mais dos ricos do País, Lemann tem construído um impressionante império no mundo dos negócios – e que não para de crescer. Aos 76 anos, ele é um dos controladores da AB InBev, maior cervejaria do mundo, da rede de fast food Burger King e do colosso do setor de alimentos Kraft Heinz, além de dezenas de outras empresas.

Na última semana, ao adquirir por US$ 1,8 bilhão a cadeia de restaurantes Popeyes, com 2,6 mil lojas em 25 países e famosa nos Estados Unidos pelo cardápio especializado em frango frito, Lemann demonstrou que seu apetite por grandes fusões e aquisições está aumentando. E não apenas por este contrato. Quatro dias antes, na sexta-feira 17, a Kraft de Lemann havia feito uma surpreendente proposta de US$ 143 bilhões pela anglo-holandesa Unilever. O preço de US$ 50 por ação, um prêmio de 18% sobre o valor dos papéis, foi considerado baixo e acabou sendo recusado.

Próximo alvo?: a compra da Coca-Cola é um sonho antigo de Lemann. Seu sócio, Warren Buffett, já detém 8,92% do capital da companhia
Próximo alvo?: a compra da Coca-Cola é um sonho antigo de Lemann. Seu sócio, Warren Buffett, já detém 8,92% do capital da companhia (Crédito:Beawiharta Beawiharta / Reuter)

No entanto, a julgar pelas cifras e pela disparada de 13% nas ações da Unilever, sinalizando que o mercado enxergou com bons olhos o potencial da negociação, pode-se prever novas tacadas do bilionário brasileiro. “Os dois grandes movimentos recentes, de compra da Popeyes e de tentativa de compra da Unilever, embora tenham resultado em finais distintos, endossam a vontade de Lemann e seus sócios em expandir ainda mais as operações”, disse Claude Whender Vautier, analista do banco suíço Zürcher Kantonalbank (ZKB). A proposta da Kraft pela Unilever, se tivesse sido aceita, teria criado o segundo maior casamento corporativo da história. Em 1999, a alemã Vodafone adquiriu a compatriota Mannesmann, fabricante de tubos industriais, por US$ 172 bilhões, de acordo com a consultoria Dealogic.

A união Kraft-Unilever também ultrapassaria a compra da anglo-sul-africana SAB Miller pela AB InBev, em 2015, avaliada em US$ 123 bilhões. “O problema é que a oferta da Kraft se tornou pública num estágio muito inicial, o que reduziu a margem de manobra para negociar um acordo alternativo longe dos holofotes”, afirmou o analista Raphael Moreau, especialista em indústria de alimentos da Euromonitor. “Ao perceber que havia pouca possibilidade de fechar negócio sem uma oferta hostil, a Kraft acabou retirando a proposta.” Uma nova oferta só poderá ocorrer daqui a seis meses.

DIN1007_lemann3Apesar da negativa da Unilever, a Kraft Heinz garantiu, em reportagem publicada no jornal The New York Times, que “está esperançosa de trabalhar nos termos e alcançar um consenso.” “O revés com a Unilever pode fazer com que os próximos movimentos não sejam tão ousados como essa última tentativa. É mais provável que eles (Lemann e seus sócios) voltem a atenção para presas menores, como General Mills, Kelloggs e Campbell”, avalia Michael Hewson, analista da consultoria britânica CMC Markets. Embora não tenha conseguido, no caso da compra da Unilever, acertar o alvo no primeiro tiro, está cada vez mais evidente que não há limites para a ambição de Lemann. A aquisição da Popeyes indica isso.

“Hoje, Popeyes é uma das maiores redes de serviço rápido do mundo, com presença maciça nos Estados Unidos e em dezenas de países. Sua atuação global complementará o portfólio da Restaurant Brands International (RBI) de mais de 20 mil restaurantes em mais de 100 países e territórios”, disse em comunicado a RBI, que pertence ao fundo de private equity 3G Capital, de Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. A RBI comprou, em 2014, por US$ 11,5 bilhões, a rede canadense de cafeterias Tim Hortons.

O próximo alvo de Lemann e seus sócios, que inclui o magnata Warren Buffett, pode ser a Coca-Cola, empresa que tem tentado se reinventar com água mineral, isotônicos e chás, entre outras bebidas, em um mundo que consome cada vez menos refrigerantes. Buffett já detém 8,92% do capital da companhia. Não existem negociações em andamento, mas fontes do setor garantem que o caminho natural é que a AB InBev faça uma oferta gigante em um futuro próximo. O próprio presidente da Coca-Cola, Muhtar Kent, tem alertado seus executivos sobre uma possível ofensiva. “A dúvida sobre uma proposta de Lemann pela Coca é mais uma questão de data do que se ela existirá ou não”, diz Claude Vautier, do ZKB. A julgar pelas últimas tacadas de Lemann, de nenhuma hipótese se pode duvidar.

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