Um estudo conduzido pelo Instituto Butantan, USP e UFRJ descobriu que pessoas com Alzheimer correm até três vez mais chances de morrer por complicações da covid-19. O levantamento foi publicado na revista “Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association”.

Segundo a publicação, os riscos aumentam seis vezes em casos de pacientes com idade superior aos 80 anos.

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“Verificamos que todas as causas de demência são fatores de risco de aumento da gravidade e de morte por covid-19 e que, em pacientes com doença de Alzheimer, esses riscos são mais acentuados”, disse em entrevista à Fapesp, o professor do Instituto de Química da USP e coordenador do projeto, Sérgio Verjovski.

A demência já tinha sido identificada como um fator de risco para covid-19 junto com outras comorbidades, como doenças cardiovasculares e respiratórias, hipertensão, diabetes, obesidade e câncer.

Um dos motivos é a própria a idade: pacientes com demência, em média, são mais velhos e grande parte deles vive sob cuidados de outras pessoas em casa ou lares de idosos, o que aumenta o risco de infecção e transmissão do vírus.

No entanto, ainda não tinha sido avaliado se pacientes com doenças neurodegenerativas que causam a demência – como a doença de Alzheimer e de Parkinson – são mais infectados, têm maior risco de desenvolver formas graves e morrer em decorrência da covid-19, e se a idade avançada acentua esses perigos.

Os pesquisadores investigaram o número de diagnósticos positivos, hospitalizações e mortes por covid-19 de 12.863 pacientes acima de 65 anos com dados de teste positivo ou negativo para o coronavírus, cadastrados entre março e agosto de 2020 no UK Biobank – banco de dados clínicos de cerca de 500 mil pacientes acompanhados desde 2006 pelo sistema público de saúde do Reino Unido.

Desse total de pacientes, 1.167 foram diagnosticados com covid-19. Para considerar a idade como um fator de risco, eles foram estratificados em três faixas etárias: de 66 a 74; 75 a 79; 80 anos ou mais.

Os resultados das análises indicaram que todas as causas de demência foram fatores de risco para gravidade e morte de pacientes hospitalizados, independentemente da idade.

Porque o Alzheimer agrava a infecção causada pelo coronavírus?

A doença de Alzheimer, especificamente, não aumentou o risco de hospitalização na comparação com as comorbidades crônicas. Entretanto, uma vez internados, os pacientes com a doença apresentaram risco três vezes maior de desenvolver quadro grave ou morrer em decorrência da covid-19 em comparação com pacientes que não tinham a doença neurodegenerativa.

No caso de pacientes acometidos pela doença e com idade acima de 80 anos, esses riscos foram seis vezes maiores em comparação com pacientes menos idosos, constataram os pesquisadores.

Uma das explicações para os desfechos observados é que condições inflamatórias crônicas ou respostas imunológicas defeituosas, causadas pelo envelhecimento do sistema imunológico (imunossenescência), podem aumentar a vulnerabilidade e reduzir a capacidade desses pacientes de montar respostas eficazes à infecção.

Outra hipótese é a alteração da permeabilidade da barreira hematoencefálica, causada pelo Alzheimer, que pode possibilitar o aumento da infecção no sistema nervoso central.

“Há algum fator, ainda não identificado, que aumenta a predisposição de pacientes nessa condição a evoluir para um quadro mais grave e falecer em decorrência da covid-19”, avalia Verjovski.