Gianne Albertoni, modelo: doação de 100% da receita motivou a participação (Crédito:Divulgação)

Imagine a cena. Ao ligar para uma corretora em busca de uma cotação, você ouve “Alô, aqui é o príncipe William, pois não?” Não é trote, é caridade. É a forma como o empresário americano Howard W. Lutnik encontrou para superar uma tragédia. No dia 11 de setembro completam-se 16 anos do ataque às torres gêmeas do World Trade Center (WTC) em Nova York, o maior atentado terrorista da história. Lutnik foi diretamente afetado. Sua empresa, a corretora Cantor Fitzgerald, ficava nos últimos andares de uma das torres. Ao desabar, ela vitimou 658 dos 960 funcionários, incluindo Gary, irmão de Lutnik. O CEO escapou por um acaso. Ele tinha previsto chegar mais tarde ao escritório naquela terça-feira, pois queria acompanhar o filho de cinco anos em seu primeiro dia no jardim de infância.

O atentado devastou a corretora. Dois terços dos colaboradores, computadores, registros e relações comerciais cuidadosamente construídas com grandes bancos ao redor do mundo desapareceram na poeira dos edifícios. Pior do que isso, coube a Lutnik lidar com as famílias das vítimas, tanto em termos emocionais quanto financeiros. No negócio dos bancos de investimento e corretoras, boa parte da remuneração vem de bônus por desempenho e de participações nas empresas. Subitamente, o futuro das crianças estava ameaçado. Além da perda humana, a poupança dos pais – e o dinheiro da escola dos filhos – sumiu nos escombros.

Howard Lutnik, CEO: fundo para os familiares das vítimas do atentado (Crédito:Divulgação)

Para aliviar esse problema prático, Lutnik criou um fundo de auxílio aos familiares das vítimas no ano da tragédia. A partir de 2005, a corretora, agora denominada BGC Partners e com sede em Londres, que faturou 2 bilhões de libras (R$ 8,1 bilhões) em 2016, passou a dedicar 100% da receita dos negócios fechados no dia 11 de setembro para o fundo, iniciativa que já rendeu US$ 21,7 milhões. Para garantir que o dia será frutífero, é preciso incentivar os clientes a ligar. A maneira encontrada por Lutnik para isso foi convidar celebridades para operar os telefones, ao lado dos profissionais da mesa.

Assim, os bancos que se servem da BGC na Inglaterra já tiveram seus operadores atendidos por William e por Harry, príncipes de Gales, e também pelo guitarrista Ron Wood, do Rolling Stones. Nos Estados Unidos, Bill Clinton, Lady Gaga e Robert de Niro tentaram fechar negócios. E, por aqui, os telefones que tocarem no dia 11 de setembro poderão ser atendidos pela modelo Gianni Albertoni, pela atriz Laryssa Dias e pelo bi-campeão olímpico de vôlei Maurício Camargo Lima, entre outros. Tendo chegado ao Brasil em 2009, quando comprou a corretora Liquidez, a BGC promove os eventos desde 2010.

Dos três, Laryssa Dias é a mais experiente no assunto. “Participei pela primeira vez em 2013”, diz a atriz, hoje participando de uma novela no SBT. Tudo foi novidade. “Eu nunca representei um personagem que trabalha no mercado financeiro, então foi um choque”, diz ela. “Fiquei assustada com os gritos, a pressa e a tensão.” No entanto, a experiência até lhe permitiu fechar alguns negócios, com a ajuda dos operadores. Albertoni diz estar ansiosa pela experiência. Será a primeira vez que a modelo vai participar da iniciativa. “O que me motivou foi o fato de que 100% da receita vai para doações”, diz ela. “Essa é uma iniciativa que serve de exemplo.” Lima concorda. “Minha área é esporte, mas se eu puder usar minha imagem para fazer o bem, é válido; mais empresas deveriam fazer isso.”

Laryssa Dias, no BGC em 2016: susto com os gritos e a tensão no mercado financeiro (Crédito:Jorge Metne)

Os recursos ganhos são divididos. Metade vai para o fundo original de auxílio às vítimas, e os restantes 50% são destinados a instituições de caridade dos países em que a corretora está sediada. No Brasil, o dinheiro vai para quatro organizações. “Vamos auxiliar a Fundação Gol de Letra, a APAE de São Paulo, a Casa Ondina Lobo e a Fundação do Rim”, diz Erminio Lucci, CEO da BGC. Ao longo das sete edições brasileiras, que se iniciaram em 2010, a BGC já arrecadou R$ 1,2 milhão. A participação de celebridades estimula os negócios. “O cliente fica mais propenso a pegar o telefone e a passar uma ordem se, do outro lado da linha, ele for atendido por uma pessoa famosa”, diz Lucci.