O shopping D&D, localizado no bairro do Brooklin, na Zona Sul de São Paulo, pode ser considerado um templo da decoração. O espaço de 24 mil metros quadrados concentra as mais refinadas lojas especializadas em design, que dão vida a cômodos vazios e que chegam a cobrar milhares de reais pelo desenho de uma sala ou uma cozinha. Por ter mais de cem varejistas espalhadas pelos seus quatro andares, o D&D atrai milhares de arquitetos e designers, de todo o continente, interessados em gastar o dinheiro de seus clientes em pias que passam de R$ 5 mil e mesas de jantar que facilmente alcançam os
R$ 20 mil.

E esse fluxo de profissionais, aliás, é a oportunidade que o diretor-geral Ângelo Derenze quer aproveitar. Prestes a completar dois anos no comando, o executivo se prepara para, pela primeira vez da história do shopping, fundado em 1995, comandar um ambicioso plano de expansão. A partir de agora, a capital paulista não é a única preocupação de Derenze. “Temos uma marca que pode ser expandida para todas as regiões do País e para alguns países da América Latina”, diz o diretor.

A inauguração mais próxima é a filial de Belo Horizonte, que deve ser aberta até 2020. Outras regiões estão sendo estudadas, como o Nordeste e o Centro-Oeste. “Também enxergamos espaço para aberturas em outros países, como Argentina e Paraguai”, diz Derenze. Esse plano, segundo especialistas, faz sentido. “O mercado é muito fragmentado e o D&D é uma das poucas marcas conhecidas no setor”, diz Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail, consultoria especializada em varejo. “O formato do shopping é replicável, mas em escalas bem menores.”

Segundo Derenze, os novos estabelecimentos podem ser feitos de diversas formas: desde o modelo visto em São Paulo, onde o D&D faz parte do complexo WTC e divide espaço com outros empreendimentos, como o hotel Sheraton e uma torre de escritórios, até assumindo áreas ociosas em shoppings já existentes. O plano de expansão, de acordo com o executivo, só foi possível após uma verdadeira revolução feita por ele e sua equipe desde 2015.

Ao assumir a cadeira, Derenze tinha a missão de aumentar o fluxo de pessoas no shopping, que começava a sofrer com a crise, além de melhorar o mix de lojas. “Hoje, sinto falta apenas de mais uma galeria de arte”, diz ele. “Vendemos desde uma taça até cozinhas de R$ 500 mil.” A grande sacada para Derenze, no entanto, foi trabalhar a marca do shopping. “A minha intenção era fazer com que a D&D representasse um diferencial no segmento”, diz ele.

Redecoração: o prédio da D&D, na zona Sul de São Paulo, teve uma reforma que custou mais de R$ 15 milhões
Redecoração: o prédio da D&D, na zona Sul de São Paulo, teve uma reforma que custou mais de R$ 15 milhões (Crédito:Rafael Renzo)

Para isso, ele apostou nos eventos. Somente nos últimos dois anos, foram 25, entre palestras e mostras no espaço. Além disso, procurou se aproximar de arquitetos e decoradores. No período, Derenze aumentou a base de dados de arquitetos cadastrados no shopping de 5 mil para 8 mil e criou premiações para que eles trouxessem mais clientes, como viagens de relacionamento para destinos nacionais e internacionais, entre eles Viena, na Áustria, e Andaluzia, na Espanha.

“A nossa intenção é dar incentivos que sejam experiências, algo que não seja fácil de comprar”, diz ele. O D&D também passou por uma intensa reforma. Desde o piso até detalhes do teto foram trocados, além da implantação de um sistema de som. As intervenções somaram R$ 15 milhões. A nova estrutura também permitiu que a D&D começasse a buscar parcerias com empresas interessadas em expor seus produtos sem necessariamente alugar uma loja.

Foi o caso de uma “casa de vidro” construída pela construtora Gafisa dentro do shopping. Dentro dela, foi instalado um apartamento decorado, que funcionava como showroom do empreendimento. A ação incluía, ainda, eventos transmitidos ao vivo pela internet. O resultado final foi 33 imóveis comercializados. Ações como a da Gafisa ajudaram o faturamento da D&D a subir 10% no ano passado, segundo Derenze – a empresa não revela os números consolidados.

“De janeiro a abril, as vendas cresceram 7% em comparação ao mesmo período de 2016”, afirma o executivo. Atualmente, 98% dos espaços do D&D estão ocupados. A média do mercado é de 94%, segundo a Associação Brasileira de Shoppings Center – alguns estabelecimentos recém-inaugurados chegam a ter metade das lojas vagas para locação. “Mesmo estando com duas lojas vazias, já estamos conversando com quatro interessados nelas”, diz Derenze.