Em seus tempos de bonança e sem problemas com a justiça, o ex-bilionário Eike Batista era lembrado tanto por sua fortuna quanto pelas suas atitudes extravagantes – entre elas, vencer o lendário Chuck Norris em uma corrida de lanchas e colocar uma coleira com o seu nome no pescoço da então esposa Luma de Oliveira, durante o Carnaval. Apesar de seu imenso apetite para aparecer e de ter sido o sétimo homem mais rico do mundo, Eike nunca chegou nem próximo ao furor causado pelo britânico ‘sir’ Richard Branson – que, com uma fortuna de US$ 5 bilhões, provou que é possível ser extravagante e bem-sucedido, ao mesmo tempo.

O dono do conglomerado Virgin, que engloba cerca de 300 empresas que vão de companhia aérea até uma espécie agência de turismo espacial, esteve em São Paulo na semana passada para palestrar em eventos da companhia de tecnologia VTEX e da empresa de cosméticos Natura. Em suas apresentações, falou da criação dos seus negócios e afirmou que, em 2018, vai mandar o primeiro grupo para uma viagem para a órbita terrestre através da sua Virgin Galactic. “O que motiva a mim e aos meus funcionários é fazer aquilo que nunca foi feito”, disse Branson, durante a sua palestra no VTEX Day.

Apesar do anúncio do empresário, é necessária cautela para cravar que realmente haverá uma decolagem de ilustres passageiros – atores como Ashton Kutcher e Leonardo DiCaprio já compraram suas passagens por US$ 250 mil – rumo ao espaço. Há seis anos, ele anunciou que a primeira nave decolaria em 2013. Não aconteceu. Em 2014, um avião de testes explodiu. Segundo Branson, nada irá atrapalhar seus planos. Ele ainda garantiu que estará na viagem inaugural da empresa, cujo investimento soma US$ 1 bilhão.

Vale tudo: Após perder uma aposta com um amigo, Branson teve que servir seus passageiros vestido de aeromoça (à esq.). Para homenagear o dia do Oceano, o empresário se vestiu de sereia
Vale tudo: Após perder uma aposta com um amigo, Branson teve que servir seus passageiros vestido de aeromoça (à esq.). Para homenagear o dia do Oceano, o empresário se vestiu de sereia (Crédito:Divulgação)

Apesar do seu negócio espacial estar em evidência, ela é apenas um dos braços do seu império, que foi iniciado com vendas discos de vinil por correspondência. Essa atividade deu origem à sua primeira loja, a Virgin Records. A lógica de investimento de Branson é simples: ele coloca o seu dinheiro dele naquilo que gosta ou porque quer resolver um problema. Talvez o seu mais conhecido empreendimento, a companhia aérea Virgin Atlantic foi criada após ele ter uma viagem cancelada de Porto Rico para as Ilhas Virgens, local onde estava sua namorada.

A saída foi fretar um avião e vender passagens para aqueles que estavam no voo. “Graças ao comportamento dele, a Virgin se tornou uma das marcas mais valiosas do mundo”, diz Eduardo Tomiya, diretor-geral da Kantar Vermeer para América Latina.
A excentricidade do empresário, no entanto, não é somente por conta de sua facilidade em ampliar o seu leque de trabalhos. É algo que se pode observar em suas poses em frente às câmeras. “Eu não tinha dinheiro para propaganda e precisava colocar a marca no mapa”, disse ele. “Se eu tivesse que fazer algo louco, eu faria.”

Não foram poucas as vezes que Branson se fez de maluco. Ele perdeu uma aposta e precisou trabalhar de aeromoça. Vestiu-se também de noiva para propagar a sua loja voltada para casamentos. Colocou ainda um tanque de guerra no meio da Times Square, um dos principais pontos turísticos de Nova York, para divulgar a sua Virgin Cola, um refrigerante. O intuito era concorrer com a Coca-Cola, o que se mostrou um verdadeiro fracasso. Isso, no entanto, não o abalou. “Você precisa tentar as coisas e algumas vão dar certo e outras vão falhar”, disse ele. “É necessário aprender com os erros e entender que sem fracassos, não há sucessos.”

Erro 404: há espaço para o humor de Branson até mesmo no site oficial da Virgin. Na foto acima, uma mensagem de página não encontrada
Erro 404: há espaço para o humor de Branson até mesmo no site oficial da Virgin. Na foto acima, uma mensagem de página não encontrada (Crédito:Reprodução)

Mais do que entender os erros e falhas, para Branson, um negócio precisa ser envolvente e divertido. Segundo ele, as pessoas não podem pensar que estão trabalhando apenas por um salário, mas por um propósito e se sentindo felizes e respeitadas por isso. Não por acaso, ele deixa os seus funcionários tirarem férias quando eles quiserem – e o tempo que eles acharem necessário. “O trabalho não pode ser um fardo”, diz. Midiático, Branson foi chamado para selfies a todo o momento em que esteve no Brasil.

Em sua palestra realizada no evento VTEX Day, um convidado perguntou os planos dele para o Brasil e pediu uma fotografia. Em 2011, em entrevista à DINHEIRO, o empresário afirmou que estava bem próximo de iniciar a operação de sua companhia aérea no País e que também se interessava pelo setor de telecomunicações brasileiro. Como se sabe, nada disso aconteceu. Branson, então, desceu para a plateia e posou para fotografias durante vários minutos. A resposta para os planos no Brasil, no entanto, ficou para depois. A prioridade dele, agora, é abrir um hotel na Lua.