Com um olho nos negócios e o outro em Brasília, o empresariado brasileiro está, aos poucos, “religando” as máquinas. O primeiro indício de que o pior da recessão havia ficado no passado foi a retomada consistente da confiança. Calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o termômetro de expectativas do setor atingiu, em março, o maior patamar desde janeiro de 2014. O passo seguinte foi o crescimento de 24% na produção de veículos no 1º trimestre, em relação ao mesmo período de 2016.

O desempenho da indústria automotiva, que foi puxado pelas exportações, ainda não resultou em geração de empregos nas montadoras, mas tem o potencial de beneficiar uma ampla cadeia de fornecedores. Em outros setores, como têxtil, vestuário, calçados e alimentos, as contratações já viraram realidade. No 1º trimestre, a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) contabiliza 13,5 mil vagas preenchidas, após dois anos seguidos de demissões. Foi nesse clima mais leve que cerca de 400 empresários e executivos participaram de um almoço promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), na segunda-feira 17, em São Paulo.

O sentimento reinante englobava quatro pilares: a economia está realmente melhorando; o crescimento sustentável só virá com as reformas; a Lava Jato, fundamental para limpar o Brasil, precisa ser acelerada; e o sucesso do governo Michel Temer depende da articulação política no Congresso Nacional. “Na economia, o pior já passou”, afirma Davide Marcovitch, presidente do Grupo Moët Henessy na América Latina. “Porém, com a lista do [ministro do STF Edson] Fachin, que pode paralisar o Congresso e derrubar a confiança dos empresários, o quadro ainda requer cautela.” Fachin autorizou a abertura de inquérito contra mais de uma centena de políticos enrolados na Lava Jato.

No dia seguinte, em evento para clientes e operadores do mercado financeiro, na capital paulista, a equipe do Itaú Unibanco esbanjou otimismo. O economista-chefe, Mario Mesquita, cravou uma expansão de 1% neste ano e de mais 4% em 2018. Bem humorado, o presidente do banco, Roberto Setubal, brincou com o “otimismo” do seu economista e atrelou a expansão mais forte do PIB à aprovação das reformas estruturais. Questionado pela DINHEIRO se achava que a Câmara dos Deputados e o Senado Federal continuariam trabalhando normalmente mesmo após a divulgação da lista de Fachin, Setubal não titubeou: “Tudo indica que sim, pois o Congresso está funcionando nesta semana.” E emendou: “A reforma da Previdência é essencial para viabilizar um crescimento maior no futuro.”

Empregos: após dois anos consecutivos de demissões, a indústria paulista contratou 13,5 mil trabalhadores no primeiro trimestre de 2017
Empregos: após dois anos consecutivos de demissões, a indústria paulista contratou 13,5 mil trabalhadores no primeiro trimestre de 2017 (Crédito:Daniel Wainstein)

No mesmo evento, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, salientou que as projeções do Itaú são até maiores que as do governo federal, mas ressaltou que a economia já voltou aos trilhos e deve encerrar 2017 num ritmo anualizado de 2,7%. O dado mais festejado da semana, em Brasília, havia sido o IBC-BR, uma espécie de prévia mensal do PIB oficial, divulgado pelo Banco Central. Em fevereiro, a economia brasileira cresceu 1,3%, após expansão de 0,62% em janeiro. Imediatamente, as principais consultorias revisaram para cima as projeções para o PIB do 1º trimestre, cujo resultado oficial será revelado pelo IBGE em 1º de junho.

Até mesmo a construção civil, que entrou em profunda depressão, parece dar sinais de que saiu do fundo do poço. No setor imobiliário, cujos estoques estão abarrotados, os valores dos imóveis, em termos nominais (sem descontar a inflação), pararam de cair. Uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança mostra que, em março, os preços cresceram 0,03%, em média – embora mínima, é a segunda variação positiva seguida. “No meio empresarial, inclusive no meu setor, o pessoal está bem mais animado agora do que no ano passado”, afirma o empresário Romeu Chap Chap, que atua há décadas no setor. “Eu estou otimista.”

Na construção pesada, a aposta do governo é nas concessões de portos, rodovias, aeroportos, ferrovias e energia elétrica que, juntas, podem movimentar R$ 77,4 bilhões em investimentos. O ministro Meirelles, que embarcou na noite de terça-feira para os Estados Unidos, onde teria, até sábado, agendas de trabalho no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, tem ressaltado que a queda do risco-país nos últimos meses é uma demonstração de confiança do investidor estrangeiro.

O principal executivo da American Airlines no Brasil, Dilson Verçosa Jr., concorda, embora confesse ter gasto muita saliva para explicar o jogo político à matriz. “Todos os meses, eu passo uma semana em Miami e uma semana em Dallas”, diz Verçosa Jr.. “Se, para a gente, é difícil explicar, imagine para eles entenderem lá fora.” Da última viagem que fez, no entanto, o executivo trouxe boas notícias1 na bagagem. “Já estamos pensando em retomar algumas frequências que foram canceladas”, diz. “É só a agenda de Brasília não atrapalhar.”