“Já furei muito pedágio em São Paulo, mas foi puro protesto, porque é caro demais”. Sem medo de ser identificado, o caminhoneiro Paulo César de Oliveira Pereira, de 42 anos, “20 de estrada”, confessa dirigir um dos sete veículos que passam, a cada minuto, pelas praças de pedágio das rodovias paulistas sem pagar tarifa.

Pereira garante que parou de cometer a infração após ter sido multado recentemente. Mas os dados da Agência Reguladora de Transportes Rodoviários de São Paulo (Artesp) mostram que a prática tem ganhado cada vez mais adeptos nas estradas. Em um ano, o número da evasão de pedágios dobrou nos 6,9 mil quilômetros de rodovias concedidas, passando de 1,8 milhão em 2015 para 3,8 milhões no ano passado, alta de 103%.

Na maioria dos casos, segundo as concessionárias de rodovias, os motoristas “colam” na traseira do veículo da frente para passar pelas cabines de pagamento eletrônico quando a cancela ainda está levantada. A prática é registrada pelas câmeras instaladas nas praças e é infração grave de trânsito, com multa de R$ 195,23 e anotação de 5 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Segundo a Artesp, a expressiva alta nos registros de evasão de pedágio está relacionada ao aumento das práticas para burlar o sistema, que envolvem ainda tampar a placa do veículo e alterar a numeração para fugir da multa. Desde dezembro de 2013, uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) permite que um agente de fiscalização multe o veículo usando apenas o sistema de videomonitoramento. Mais recentemente, câmeras com leitor de placas estão sendo instaladas nas cabines de pedágio.

O motorista Claudinei Camargo, de 42 anos, que mora em São Roque, no interior paulista, já cansou de ver colegas de profissão burlando o pedágio na Rodovia Castelo Branco. “À noite, com o farol alto, as câmeras cegam e não pegam a placa. Eles também sabem as cabines que não têm câmera e passam em comboio. Um vai colado no da frente, com o Sem Parar”, conta ele, que também já testemunhou carros passando na faixa de cobrança automática colados em seu caminhão. “Um dia desses, um cara até buzinou para me agradecer.”

O caminhoneiro conta ainda que a empresa na qual trabalha decidiu instalar o dispositivo de cobrança eletrônica nos veículos da frota depois de receber muitas multas por passagem no pedágio sem pagar. “A empresa dava o dinheiro para a tarifa, mas o colega preferia embolsar e correr o risco.” “Com o Sem Parar, a cobrança vai para a empresa e o motorista não precisa levar dinheiro do pedágio na viagem”, disse.

Segurança. Para o engenheiro civil Creso de Franco Peixoto, mestre em transportes e professor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), a explosão de casos de evasão de pedágio também pode estar relacionada ao aumento do número de motoristas que utilizam o modelo de débito automático, que já corresponde a 58% dos pagamentos totais de pedágio. Segundo a Artesp, as quatro empresas que operam o sistema de pedagiamento eletrônico já somam 4,3 milhões de veículos cadastrados em São Paulo.

Peixoto enxerga as fugas de pedágio como uma ameaça à segurança dos motoristas nas rodovias. “Em 2014, fiz um levantamento experimental em uma praça de pedágio no interior paulista onde detectamos que 67% dos veículos não respeitavam a velocidade máxima de 40 km/h. Teve caminhão que passou a 97 km/h. Imagina se o veículo da frente para por algum problema no aparelho, seria uma tragédia”, afirmou.

O especialista defende a retirada das cancelas para evitar acidentes e a instalação de radares especiais para flagrar casos de evasão de pedágio. “Já existem sistemas eficazes que são capazes de identificar a evasão mesmo em alta velocidade. Além disso, é preciso punir rapidamente o infrator, fazendo uma fiscalização alguns metros após a praça de pedágio para parar o motorista e autuá-lo na hora”, defendeu.

A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) informou que os veículos são fiscalizados 24 horas por câmeras de monitoramento e que “os evasores são identificados pelas concessionárias e acionados pela Polícia Rodoviária Federal”. Segundo a entidade, a prática de furar pedágio “é uma grave questão de segurança”. A Artesp afirmou que as empresas cumprem protocolos de sinalização das vias e das praças de pedágio e de fazer campanhas educativas para conscientizar os motoristas sobre os riscos de acidentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.